Aldeia de 150 habitantes em Bragança atrai empresários fartos da cidade
À procura de qualidade de vida, quatro jovens decidiram investir numa pequena aldeia transmontana. Hoje, a vida na cidade já lhes faz impressão.
“O mais assustador foi não conhecermos ninguém”, recordam. Mas a verdade é que se consegue “uma qualidade de vida” que não se encontra noutros locais. “Prefiro estar aqui do que na cidade”, frisa Luís Ribeiro que, juntamente com Fátima Lima, explora uma coelheira já existente na aldeia desde 2010. Mas tem em mãos um projceto de cerca de 500 mil euros para criar uma outra, também na aldeia, juntamente com Fábio Leite, que chegou em 2011, atraído pelo amigo de infância. “Quando viemos para cá quisemos logo trazê-lo. Somos amigos há muitos anos”, contaram. “Só falta a família. Mas há muitas coisas que são compensadoras. O consumismo de Braga, agora, faz-me impressão. O tempo que se tem disponível e a informalidade que há aqui são muito bons”, sublinha Luís Ribeiro, que fez os estudos superiores em Vila Real e, por isso, já estava habituado aos ares transmontanos, tal como a sua esposa. “Queria uma coelheira. E esta foi a última casa que vimos no último dia que tínhamos para procurar”, recorda.
Também Luís Pêgo já se rendeu à região. Amigo de infância de Luís Ribeiro e Fábio Leite, soube que a Junta de Freguesia tinha um restaurante junto à N. Sra. da Veiga para entregar à exploração, e não pensou duas vezes. “Tinha uma empresa em Braga mas resolvi arriscar e vir para aqui. Para já, está a correr bem”, garante. O espaço pretende afirmar-se pela comida tradicional, sobretudo no pote, recuando às raízes mais profundas do Nordeste Transmontano.
Foi o último a chegar, no mês de Novembro, e já está perfeitamente enturmado.
“A Junta e a população acolheram-nos de braços abertos. Para nós, eles terem vindo foi ouro sobre azul”, sublinha o presidente da Junta, António Baptista, que faz questão de os integrar cada vez mais no quotidiano de Alfaião.
Este ano já participaram no cantar dos Reis pela aldeia e são clientes habituais dos jantares comunitários. Mas, mais do que isso, Luís e Fátima esperam para Maio o nascimento da primeira filha. “A Aurora vai ser natural de Alfaião”, nota António Batista, entre sorrisos. “Estou satisfeitíssima”, garante a mãe. “É o sítio ideal para criar um filho”, diz.
Certo é que Alfaião tem visto o tecido empresarial crescer. Foi ali que nasceu o presunto de coelho, numa colaboração entre Luís Ribeiro e Nélson Preto, outro empresário mas natural da freguesia, que se dedica à produção e comercialização de produtos da região, como o fumeiro.
A população aplaude a chegada de sangue novo à aldeia. “É uma ideia valente. Quanto mais gente, melhor”, ri-se Benjamin Fernandes, sentado ao balcão do restaurante de Luís Pêgo, o Plátano da Veiga. Este é um dos habitantes de Alfaião que já se habituaram a ir tomar um digestivo à beira do rio Penacal. “Claro que me assusta investir. Mas assusta-me menos do que investir no centro de Braga”, sustenta Luís Pêgo.
Sobre a região, os quatro empresários lamentam apenas a falta de melhores ligações ao Planalto Mirandês. Fátima diz mesmo que “o problema é que é um povo que sobrevive com muito pouco e é feliz assim. A desvantagem é que também se conforma com a realidade que tem e que, às vezes, poderia ser melhorada”.