Ministra responsabiliza sindicato por falta de funcionários nos tribunais
Paula Teixeira da Cruz disse que uma acção interposta por um sindicato suspendeu um concurso para 400 novos funcionários em 2007. Mas o Sindicato dos Oficiais de Justiça recorda que o concurso não foi suspenso e os funcionários foram admitidos.
Paula Teixeira da Cruz disse existirem várias razões para a escassez de funcionários sendo a primeira delas uma “providência cautelar interposta por um determinado sindicato que suspendeu um concurso para a admissão de 400 funcionários e que está pendente”.
O presidente do SOJ, Carlos Almeida, recusa, contudo, que a estrutura seja responsabilizada. “A primeira instância não diferiu a providência cautelar, ou seja, não teve efeito suspensivo e o concurso continuou. Só mais tarde, no âmbito da acção principal [que acompanha a providência cautelar mas é decidida mais tarde] é que nos deram razão. Mas os funcionários que entraram continuam lá ainda hoje. Não saíram. O que nós sempre colocamos em causa foi a legalidade do concurso e não as pessoas que entraram ao serviço através dele. A ministra parece não saber o que se passa no seu próprio ministério. Responsabilizar-nos por isso não faz qualquer sentido”, rebateu Carlos Almeida.
Também o presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais, Fernando Jorge, salientou que “que os funcionários que entraram no âmbito desse concurso continuam ainda hoje a trabalhar. Não faz sentido dizer isso. É apenas uma desculpa da ministra”. Nas contas deste sindicato são 1200 os funcionários em falta.
Efectivamente o Supremo Tribunal Administrativo anulou esse concurso em 2013 dando razão ao SOJ, como então o PÚBLICO noticiou. O sindicato colocava em causa o facto de o anúncio de concurso apenas exigir “funcionários e agentes da Administração Pública habilitados com o 11.º ano de escolaridade ou equiparado” quando a lei exige o curso de Técnico Superior de Justiça ou cursos profissionais equiparados. Porém, os funcionários continuaram a trabalhar porque estava em causa uma “situação consolidada no tempo”, explicou Carlos Almeida.
Mas Paula Teixeira da Cruz apresentou outro entendimento sobre o que aconteceu. “Tenho de respeitar o tempo dos tribunais” quanto à acção “que foi intentada ainda eu não tinha assumido funções. Se tivesse ficado resolvido, parte do problema ter-se-ia esbatido”, disse esta sexta-feira. Fonte do Ministério da Justiça explicou entretanto o Supremo ainda não decidiu sobre um requerimento e que poderá ainda impor o cumprimento da decisão levando à saída dos funcionários que entrarem em 2007.
Também em Dezembro de 2011, já depois dos tribunais terem decretado a anulação do concurso lançado em 2007, o Ministério da Justiça voltou utilizar os mesmos critérios considerados ilegais pelo SOJ para recrutar mais 400 funcionários. O sindicato interpôs uma providência, mas não teve efeito suspensivo ficando a aguardar o resultado da acção anterior.Dos 400 candidatos, apenas cerca de 150 foram colocados nos tribunais, já que muitos ficaram pelo caminho.
O Conselho Consultivo da Comarca de Lisboa denunciou há uma semana a eminência de ruptura nos serviços daquela comarca devido à escassez de funcionários. O alerta surgiu uma semana depois de a procuradora-geral distrital do Porto, Raquel Desterro, ter considerado, num relatório da Procuradoria, que também no Porto é “verdadeiramente dramática” a carência de funcionários em todas as comarcas do distrito judicial do Porto falando mesmo em “situações de verdadeira ruptura” nos tribunais da região.
“Não diria que vivemos uma situação de ruptura. Alguns magistrados é que o dizem. É evidente que todos nós gostaríamos de ter mais funcionários”, respondeu esta sexta-feira a ministra recordando já ter sido aberto em Janeiro um concurso para admitir 600 oficiais de justiça.
Segundo a governante, contudo, concorreram 1000 candidatos. Paula Teixeira da Cruz não indicou quando os novos funcionários estarão a trabalhar nos tribunais. Disse apenas que o curso que têm de fazer “dura um ano”, mas é feito já nos tribunais.