Faltam mais de cem médicos no Litoral Alentejano
Concursos para contratar clínicos ficam "desertos", diz presidente da ARS do Alentejo. Administração do hospital admite falta de pessoal, mas recusa "degradação" das condições.
O Conselho de Administração afirma em comunicado que, para assegurar os serviços da unidade, a qual abrange os concelhos de Alcácer do Sal, Grândola, Odemira, Santiago do Cacém e Sines, precisaria de 186 médicos, mas actualmente apenas dispõe de 79.
Também presidente da Administração Regional de Saúde do Alentejo, José Robalo, reconhece o problema da falta de médicos, mas lembra que “se arrasta há anos” e que têm vindo a ser abertos sucessivos concursos para a contratação de profissionais “que ficam sistematicamente desertos”.
“Há muita dificuldade na fixação de médicos nesta zona. Está-se a tentar criar alguns incentivos que permitam que os profissionais sejam compensados no período de instalação”, disse José Robalo ao PÚBLICO. Incentivos que podem passar, como já foi anunciado, pela atribuição de mil euros durante um período inicial, que depois irá diminuindo para 500 e 250 euros. Esta ideia está ainda em estudo.
Entretanto, para colmatar as lacunas, a solução tem passado por contratar médicos a empresas de prestação de serviços, que trabalham à tarefa (os chamados “tarefeiros”), resposta que tem sido contestada pelos especialistas, nomeadamente pela Ordem dos Médicos, que argumenta que estes profissionais estão sempre a mudar e muitos não estão habituados a fazer urgência.
Na carta enviada ao director clínico na quinta-feira, os médicos demissionários no hospital do Litoral Alentejano queixam-se de “desconformidades sistemáticas da escala de urgência, nomeadamente do Atendimento Geral e do Atendimento Pediátrico” e recordam que já em Novembro enviaram um primeiro alerta à administração do hospital, em que elencavam as “condições mínimas” para o serviço poder funcionar.
Em Dezembro, voltaram a avisar o conselho de administração que, segundo afirmam, “nunca se mostrou realmente interessado em discutir a problemática" do serviço de urgência. Como a situação não se alterou, mesmo depois de em Janeiro “ter havido orientações da tutela “ para o reforço das equipas das urgências a nível nacional, decidiram demitir-se do cargo, embora continuem em funções.
O Conselho de Admnistração da ULSLA rejeita no comunicado a acusação de “degradação” e de falta de diálogo e garante que as escalas do serviço de urgência estão “já elaboradas e aprovadas” para Março, faltando apenas a “designada escala de 1º Atendimento, onde faltam completar três turnos e três meios-dias”. O serviço funciona ainda com dois médicos de empresas de prestação de serviços e, na falta de um elemento, “existe uma equipa de médicos especialistas de rectaguarda”, que inclui cerca de um dezena de elementos.
Admite, porém, que há “problemas resultantes, entre outros, da falta de médicos, o que se reflecte no Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica (SUMC), mas também nas restantes valências da ULSLA, incluindo os centros de saúde e os serviços de urgência básica. Assegura que a “orgânica do SUMC” é uma das suas “prioridades”, mas explica que “ainda não foi possível fechar este assunto, dado que existe uma enorme falta de médicos”.
A presidente da administração da ULSLA acabaria por admitir à tarde, em declarações aos jornalistas, a possibilidade de externalizar a globalidade do serviço de urgência do hospital. Para Joaquina Matos, citada pela Lusa, o “’outsourcing’ global” daquele serviço, à semelhança do que acontece em “grande parte” dos hospitais espanhóis, é uma das alternativas que têm vindo a ser discutidas.
Sexta-feira, sucederam-se as reacções à notícia das demissões e o Partido Socialista pediu explicações ao Ministério da Saúde, alegando que esta situação decorre de um “problema estrutural sobejamente conhecido da tutela”.
Inquirido sobre a vaga de demissões em vários hospitais públicos, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, defendeu que "é preciso não confundir a árvore com a floresta" e que há muitos dirigentes que, apesar de toda a pressão mediática, continuam “a fazer tudo o que podem”.