Desde o final da década de 1990 que não morria tanta gente no Inverno

Número de óbitos acima do previsto é de 4625. Direcção-Geral da Saúde diz que com o envelhecimento da população vai ser frequente ter os mais idosos descompensados no Inverno.

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O frio é apontado como uma das possíveis causas para o excesso de mortalidade Paulo Pimenta
Em Portugal a imunização contra o sarampo faz parte do Plano Nacional de Vacinação
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Em Portugal a imunização contra o sarampo faz parte do Plano Nacional de Vacinação Foto: Paulo Ricca

Os dados, que constam do último Boletim de Vigilância Epidemiológica da Gripe do Insa, contabilizam as mortes desde Dezembro até ao final da oitava semana deste ano e, apesar de existir um decréscimo, continuam acima daquilo que as autoridades de saúde previam para a época. Os óbitos dizem respeito a todas as causas de morte, não estando ainda apurados os dados para poder separar aquelas que podem ser directamente atribuídas à gripe.

“As curvas indicam a mortalidade esperada que ocorreria se não houvesse frio, calor ou gripe. O que assistimos [neste Inverno] é a um aumento em relação às condições ideais, porque as curvas são um modelo teórico e matemático”, explicou ao PÚBLICO a subdirectora-geral da Saúde, Graça Freitas, que adianta que a mortalidade acima do esperado neste Inverno está ao nível de 2008/2009, ano em que o Insa aponta para mais 3632 mortes.

O Insa ressalva que, para já, “o aumento dos óbitos observado não pode ser atribuído a nenhuma causa específica, podendo, no entanto, estar associado ao frio extremo, ao aumento da incidência das infecções respiratórias agudas e à actividade gripal”. E sublinha que “na Europa também foi observado um excesso de mortalidade em Inglaterra, Escócia, País de Gales, França, Grécia, Holanda, Bélgica, Espanha e Suíça”.

Graça Freitas salienta também que este Inverno teve diferenças em relação aos outros anos com óbitos acima do habitual. Nesses anos a estirpe de vírus da gripe que mais circulou foi a A(H3N2), que é conhecida por ser especialmente problemática nas pessoas mais velhas ou com doenças crónicas e neste ano tivemos duas estirpes a dominar. “Este ano houve aqui uma coisa que não é exactamente igual, porque antes do A(H3N2) tivemos um [vírus] B”, explicou a responsável da Direcção-Geral da Saúde.

O relatório indica, ainda, que em Portugal na última semana “este excesso de óbitos foi observado apenas na população com 75 ou mais anos de idade” e sobretudo na região Norte. No que diz respeito aos internados em unidades de cuidados intensivos, só em 20% dos casos as pessoas estavam vacinadas contra a gripe e em quase 86% das situações tinham doenças crónicas de base.

“Cada vez temos pessoas mais envelhecidas e isoladas, que vivem sozinhas e com múltipla patologia e polimedicadas, o que muitas vezes leva a que as pessoas não andem muito compensadas. Quando aparece o frio extremo, como aconteceu neste ano, os mecanismos de termorregulação dessas pessoas, que já estavam descompensadas pela idade, patologia e tratamentos, descompensam as doenças cardiovasculares, as doenças respiratórias e a diabetes, o que pode levar a este excesso de mortalidade”, salientou Graça Freitas. “É uma realidade com que vamos ter de contar daqui para a frente, porque vamos ter cada vez pessoas mais velhas e com o fenómeno do isolamento”, acrescentou.

Para a subdirectora-geral da Saúde é fundamental que estas pessoas façam a vacina contra a gripe sazonal. “As pessoas não valorizam muitas vezes a gripe e isso é um problema. A gripe pode complicar e dar origem a uma pneumonia e levar a internamentos”, salientou, lembrando que a vacina deve ser feita todos os anos, o que também dificulta a protecção.

1,5 milhões de portugueses vacinados
Apesar dos dados dos óbitos, a campanha de vacinação contra a gripe deste Inverno teve a maior adesão de sempre, com mais de 1,5 milhões de portugueses com mais de 60 anos a serem vacinados. O relatório final do Vacinómetro, que monitoriza o programa de vacinação contra esta doença, indica que foram vacinados 1.311.031 portugueses com mais de 65 anos (64,5% desta população) e 228.420 com idades entre os 60 e os 64 anos (35,3%). Os doentes crónicos vacinados atingiram os 55,3%, enquanto 51,7% dos profissionais de risco optaram por esta medida profiláctica.

O pico da gripe entupiu as urgências dos hospitais, com vários relatos de tempos de espera muito acima do recomendado. Registaram-se mesmo sete óbitos em doentes com esperas acima do que a triagem previa, o que levou à abertura de inquéritos para perceber se há relação entre o desfecho dos casos e a demora no atendimento.

Para contornar o problema, o Ministério da Saúde decidiu em Janeiro prolongar o horário de atendimento de alguns centros de saúde durante a semana e abrir outros também ao fim-de-semana. A medida deveria vigorar apenas até dia 28 de Fevereiro, mas na quinta-feira o secretário de Estado adjunto da Saúde adiantou que será prolongada enquanto houver necessidade. “A época gripal e de infecções respiratórias está a diminuir. Contudo, manda a boa cautela que só depois de consolidados os bons resultados e de demonstrada a não necessidade da abertura é que ela eventualmente seja reduzida. Mas, neste momento, as indicações que mantemos para junto dos centros de saúde é de manter o alargamento de horário durante este período e, por isso, não iremos cumprir a data taxativa de 28 de Fevereiro”, explicou Fernando Leal da Costa.

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