Protesto junta cem alunos e professores frente ao Conservatório Nacional

Os estudantes chegaram a fechar o edifício da escola de música, em Lisboa, a cadeado.

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Alunos e direcção exigem ao Ministério da Educação uma solução para a problema Helena Colaço Salazar

Além dos cadeados, foram colocados nas janelas do edifício no Bairro Alto cartazes onde se podem ler mensagens como: “Eu sou Conservatório Nacional”, “Temos o direito de estudar música sem levar com um tijolo na cabeça”, “Não deixem a nossa casa desmoronar” ou “Só queremos ter aulas em segurança”. Os manifestantes exigem uma solução para o problema por parte do Ministério da Educação.

Segundo a Lusa, pelas 9h45 dois elementos da PSP cortaram os cadeados que tinham sido colocados pelos alunos durante a noite, intervenção que foi acompanhada por gritos de protesto como “a escola unida jamais será vencida” e “vitória, vitória”.  

Ana Mafalda Pernão, directora da EMCN, mostrou-se solidária com a manifestação, garantindo compreender o porquê da sua realização. “O problema agora é que queremos que o Ministério da Educação fale connosco, o que ainda não aconteceu. Recebi um email na sexta-feira a dar autorização para pedir três orçamentos para a realização das obras, mas não mais que isso”, disse Ana Mafalda Pernão.

De acordo com a directora da escola, que lembra que o imóvel no Bairro Alto completa 180 anos em 2015, “é preciso uma situação que não seja só o remendo de buracos, mas uma intervenção mais profunda no edifício. “Precisamos de ter uma conversa franca com o ministro, frente-a-frente”, concluiu Ana Mafalda Pernão.

“Queremos ver resolvida toda esta situação das questões de segurança, das obras que já se arrastam há alguns anos. Queremos falar com Nuno Crato, não queremos resposta através de nenhum papel”, disse também Bruno Cochat, professor no Conservatório.

Já Ana Barros, mãe de uma aluna do 5.º ano integrado, disse ter sido “sem surpresa” que chegou à escola e viu todo o “aparato”, sublinhando que um dia tal tinha de acontecer. “A escola precisa de obras há 70 anos. O Ministério da Educação tem de resolver este problema, que nunca se viu em lado nenhum. É a única escola pública no país com estas condições. Mas, afinal, o que é que o senhor ministro quer? Não quer formar cantores e músicos neste país?”, questionou a mãe. “Pode ser que agora, com esta chamada de atenção por parte de pais, alunos e professores, o senhor ministro nos oiça e resolva a situação”, desabafou.

Também Gonçalo Mota, de 16 anos, aluno de ensino integrado, explicou que foram os estudantes que decidiram fechar a escola para exigir melhores condições, avançando não ser possível continuar na situação de insegurança que se tem mantido até agora.

Este protesto acontece depois de a EMCN ter sido notificada pela Câmara de Lisboa, na sequência de uma vistoria, que teria de encerrar dez salas de aula a partir do dia 16 de Fevereiro, por questões de segurança. Uma outra vistoria realizada pelo município em meados de 2014 tinha concluído pela existência de risco de queda de elementos das fachadas, “insalubridade” e “alguma insegurança em relação ao risco de incêndio” no interior do edifício.

Esta terça-feira realizou-se uma assembleia geral de escola, na qual pais e alunos decidiram apoiar a decisão da direcção de exigir ao Ministério da Educação que encontre uma solução definitiva para os problemas de degradação do edifício. Na altura, o ministério de Nuno Crato transmitiu ao PÚBLICO que “a Direcção-Geral de Estabelecimentos Escolares, através da Direcção de Serviços de Lisboa e Vale do Tejo, tem acompanhado com atenção a situação a Escola de Música do Conservatório Nacional”.

“Foram já feitas duas vistorias técnicas ao edifício, a última delas na semana passada, tendo sido elaborado um levantamento das intervenções essenciais”, acrescentou o ministério através do seu gabinete de imprensa, frisando que a “direcção da escola foi informada das intervenções dos procedimentos necessários para proceder a essas intervenções com a maior brevidade, através da apresentação de três propostas de orçamento”.

Mafalda Pernão reagiu insistindo que "não houve acompanhamento" e que "os orçamentos são para remendos".