Um comprimido reduz em 86% o risco de transmissão do vírus da sida

Organização Mundial da Saúde recomenda que Truvada seja usado para evitar novas infecções.

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O Truvada é uma combinação de dois anti-retrovirais (tenofivir e emtricitabina) Justin Sullivan/AFP

O comprimido em causa é o Truvada, uma combinação de dois anti-retrovirais (tenofivir e emtricitabina), que vários estudos revelaram ser bastante eficaz a evitar a infecção pelo vírus da sida. Em 2014, o Centro de Controlo e Prevenção das Doenças dos EUA recomendou o uso profiláctico do Truvada por homens que fazem sexo com outros homens sem preservativo, heterossexuais com parceiros de alto risco, como utilizadores de drogas injectáveis ou bissexuais que fazem sexo sem protecção, pessoas que têm relações sexuais regularmente com alguém infectado. A Organização Mundial da Saúde fez a mesma recomendação – mas mantém o conselho do uso de preservativos.

O ensaio clínico francês Ipergay, apresentado na 22ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas em Seattle (EUA), teve uma abordagem original. Em vez de as pessoas não infectadas pelo VIH tomarem diariamente um comprimido de Truvada por correrem riscos elevados de vir a contrair a infecção, os cerca de 400 participantes neste ensaio só faziam o tratamento se esperavam ir fazer sexo de risco.

O esquema terapêutico desenvolvido pelos cientistas ligados à organização France Recherche Nord & Sud Sida-HIV Hépatites consistia em tomar dois comprimidos entre 24 a duas horas antes de ter relações sexuais, um outro logo a seguir e um quarto 48 horas mais tarde. Os participantes tinham em média 35 anos, mantinham cerca de dez relações homossexuais por mês, em 70% dos casos sem preservativo e oito parceiros sexuais em dois meses.

Metade recebeu Truvada no primeiro ano, e outra metade um placebo, um comprimido sem efeito terapêutico. Após 13 meses, 14 dos participantes que tomavam um placebo eram seropositivos (uma incidência de 7%), enquanto apenas dois dos que tomavam Truvada tinham o vírus. O nível de protecção global era de 86%.

“Os participantes decidiam por si utilizar o medicamento, em função do risco que calculavam que iam correr. Isso tornava-os mais responsáveis. Mas isso era combinado com testes regulares de despistagem da sida. Isso permitiu atingir um nível de protecção que não seria possível com uma vacina anti-VIH”, comentou Jean-Michel Molina, da Universidade Paris-VII e coordenador do estudo, citado pela agência AFP.

Outro estudo, desta vez britânico, apresentado no mesmo congresso, aponta para o mesmo nível de protecção, mas com a toma de um comprimido diário de Truvada, em situações de vida real: os participantes eram livres de tomar os comprimidos ou não. O ensaio PROUD pretendia avaliar se o uso do medicamento profiláctico iria incentivar comportamentos sexuais de risco – como deixar de usar preservativos e fazer aumentar a incidência de doenças sexualmente transmissíveis. Esse aumento não se verificou, dizem os investigadores do Medical Research Council.

Procurou-se ainda avaliar se seria vantajoso, em termos de custo-benefício, introduzir o Truvada no sistema nacional de saúde britânico – uma vez que é caro. O tratamento para uma pessoa custaria cerca de 490 euros por mês, calcula o Guardian.

Os resultados de ambos os ensaios aguardam ainda publicação numa revista científica.

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