Jovens designers portugueses em Londres: comerciais ma non troppo
João Melo Costa e Daniela Barros, do Portugal Fashion, apresentaram-se sexta-feira na passerelle britânica – no mesmo dia em que os Marques’Almeida foram seleccionados para o LMVH Prize.
Daniela Barros e João Melo Costa apresentaram ao final da tarde as suas colecções para o próximo Inverno no calendário do Fashion Scout, uma plataforma que serve de montra a jovens talentos do design de moda e que é um dos principais eventos-satélite da London Fashion Week. Lançou, entre outros, Peter Pilotto ou William Tempest e tem depois, em Março, um showroom de vendas em Paris, onde os dois designers - ela graduada do Espaço Bloom, plataforma para novos talentos do Portugal Fashion, para a passerelle principal, ele ainda Bloom – já estiveram presentes.
Em Londres, pela terceira vez no Fashion Scout, os dois designers sentem estar na cidade certa. “É a semana de moda mais aberta e preparada para receber jovens criadores de todo o mundo”, atesta João Melo Costa antes de apresentar a sua colecção feminina que se propõe a definir a identidade da sua marca: “Um vestível que não seja mais comercial, mas sim mais adaptado ao mundo real. Nas últimas colecções senti que [elas] podiam criar uma barreira entre o apreciar como trabalho e o desejo de ter”. Usou elementos do seu curto passado, das organzas termocoladas aos cristais ou aos estampados digitais, “uma mistura de artesanal e tecnológico”, peças “emocionais e com uma carga conceptual interessante”.
É em Londres, conhecida pela sua criatividade e pulsar jovem, “que está a maior parte da imprensa a que quero chegar”, explica ao PÚBLICO Daniela Barros. “Todas as peças têm um carinho especial e se eu tronasse o meu trabalho num ‘comercial corrente’, ia perder o sentido estético e estrutural que quero”, explica sobre a satisfação em estar nesta passerelle paralela à qual acorre imprensa importante e buyers que tendem a fechar negócio em Paris. NKA_002 é a sua colecção feminina, marcada pela sua habitual carga arquitectónica e de desconstrução, e uma aproximação “às coisas reais”. Memória, coisas que recalcamos, coisas que imaginamos. “Nunca conheci os meus avôs mas tenho uma imagem deles, da forma como vestiam” e do peixe que era levado à porta da casa da infância. Muita pesquisa depois, trabalho sobre a alfaiataria masculina e conjugação de materiais como a seda e… a pele de peixe. “Trabalho com perca e salmão”, sorri, sobre a parceria que fez com uma empresa islandesa para depois a trabalhar como tecido numa colecção em tons neutros, preto e branco.
O Fashion Scout decorre desde o primeiro dia de London Fashion Week até terça-feira, dia em que sobem à passerelle, na plataforma NewGen de novos designers, os portugueses Marques’Almeida. A sua colecção para o Inverno 2015/16 é uma das mais aguardadas – “um dos pontos altos do dia final” da semana de moda, diz o Guardian. A jovem dupla apaixonada pela década de 1990 e pela ganga está em franca ascensão. No último ano, Marta Marques e Paulo Almeida desenharam uma colecção-cápsula para a Topshop e, menos de cinco anos depois de terem fundado a sua marca em Londres, receberam o prémio de Emerging Womenswear Designer do British Fashion Council, organização profissional promotora do design de moda britânico e cujo trabalho como mentores de novas marcas visou, entre outros, os Marques Almeida.
O mesmo British Fashion Council, associado ao British Council, ao Portugal Fashion e ao AICEP, é também responsável por outra presença da moda na cidade – neste caso, estacionando-a. Num parque automóvel no SoHo, está a instalação portuguesa Sol.Energia.Tecnologia, que integra o International Fashion Showcase, que expõe trabalhos de 110 designers de 30 países, entre os quais os portugueses João Melo Costa, Klar, Carla Pontes, Hugo Costa e Mafalda Fonseca, sob coordenação do responsável pelo Bloom, Miguel Flor. Na estação passada, a directora da Vogue Itália e a crítica de moda Suzy Menkes visitaram a instalação inaugural portuguesa, repete Flor, que ajudou a escolher os nomes de Melo Costa e Daniela Barros para o Fashion Scout. É tudo uma questão de falar a mesma língua. “É preciso perceber a linguagem de cada designer e adaptá-la à linguagem de cada passerelle”, frisa, “de uma forma não sentimental e mais cerebral. Para se diferenciarem” numa cidade em que, segundo o BFC, mais de 100 milhões de libras se movimentam com as encomendas geradas na semana de moda. Os portugueses do Portugal Fashion só saberão em Março e em Paris se fazem parte desse número.
O PÚBLICO viajou a convite do Portugal Fashion