Homem que roubou Códice Calixtino condenado a dez anos de prisão

Ex-electricista da catedral de Santiago de Compostela tem ainda de pagar uma indemnização de 2,4 milhões de euros.

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O livro foi encontrado na garagem de Castiñeiras em boa estado Reuters

A sentença do homem, que durante 25 anos trabalhou como electricista na Catedral, foi mesmo assim inferior àquilo que a acusação pedia. Em causa não está apenas o roubo do Códice Calixtino, encontrado cerca de um ano depois na garagem de casa de Manuel Fernández Castiñeiras, mas também roubos sistemáticos de documentos e dinheiro da catedral ao longo de muito tempo.

A acusação pedia uma pena de 15 anos de prisão para o homem e de um ano e meio para a mulher e o filho, acusados de cumplicidade. Manuel Fernández Castiñeiras terá ainda de pagar uma multa de 268.425 euros e uma indemnização de 2720 euros ao então deão da catedral, José María Díaz. O electricista era próximo do deão mas quando em Julho foi detido confessou o crime e justificou-se com um “ajuste de contas”, acusando a administração da catedral de lhe ter ficado a dever dinheiro, depois de o ter despedido. Versão que então desmentiu.

A mulher do electricista além da pena de seis meses de prisão terá também de pagar uma multa no mesmo valor da aplicada ao marido.

Manuel Fernández Castiñeiras terá ainda de indemnizar a Catedral de Santiago em 2,4 milhões de euros e 30.106 dólares – valores que o tribunal considerou terem sido roubados pelo electricista. Parte deste dinheiro, cerca de 1,7 milhões de euros já foram entregues pela Justiça à Catedral, tratando-se do montante encontrado na garagem de Castiñeiras.

O Códice Calixtino, ou Codex Calixtinus, é um livro do século XII e tem um valor incalculável. O manuscrito estava guardado numa caixa forte no arquivo da catedral e o seu desaparecimento tinha sido considerado um dos mais graves cometidos contra o património histórico e artístico espanhol. Na altura não foram adiantadas muitas informações mas a polícia suspeitava que o crime tinha sido cometido por alguém que conhecia muito bem o espaço e que tinha acesso ao arquivo da catedral, que é restrito, uma vez que não existiam sinais de arrombamento.

Até ao roubo, o Códice Calixtino apenas tinha saído por duas ocasiões da catedral, mas nunca de Santiago de Compostela. Depois destas duas saídas, a Catedral optou por expor uma reprodução da obra, protegendo o original na caixa forte.

O Códice Calixtino descreve pela primeira vez os detalhes de várias das rotas do Caminho de Santiago, com informação sobre alojamento, zonas a visitar, património e objectos de arte que podem ser conhecidos. Um relato que, nove séculos depois, continua a ser citado e ainda serve de referência para alguns dos locais percorridos pelos peregrinos.

Elaborado entre 1125 e 1130 – depois manuscrito em 1160 – o texto ficou maior do que o inicialmente previsto, acabando por contar com participações dos principais escritores, teólogos, fabulistas, músicos e artistas da época, tendo que ser dividido em cinco livros e vários apêndices, entretanto reunidos, já no século passado, num único volume.

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