A força da ideia realizada

Quando uma sociedade é capaz de acalentar abundantes ideias que revolucionam a economia e a sociedade, ela pode dormir descansada.

- Quem se lembra de como funcionava a nossa banca até 1986? Para qualquer movimento que devesse fazer, parecia que o empregado me dizia: “porque me vem aborrecer a mim e não vai ao banco ao lado”? De facto, ninguém mo disse, mas entendia-se...  Eram ainda os tempos ‘revolucionários’…

É quando aparece um Banco ágil, que se move ligeiro, inova, personaliza, dá bom serviço ao cliente… E os bancos estabelecidos, entre aturdidos e espantados perguntam-se: será possível? E rapidamente, entre esforços por acertar o passo, e aquisições, os nossos serviços financeiros põem-se ao nivel do melhor e mais eficaz do mundo. Num período de três anos e pouco...!

Talvez estivessem todos à espera de um ‘lider’ com ideias e força de as levar à prática, para elevar toda a banca do seu frustrante nível de mediocridade.

- Na Índia dominada pelos ingleses, nem havia abastecimento organizado de bens essenciais como o leite, nas grandes cidades. E uma empresa inglesa foi posta para fornecer ‘leite para Mumbai’, adquirido-o aos intermediários que exploravam os agricultores, no melhor estilo.

No movimento de libertação da Índia havia defensores de cooperativas, para velar pelos interesses dos agricultores. Criam-se, então cooperativas de aldeia, que se associam em uniões distritais e, estas, em federações, no Estado de Gujarate. Por casualidade um jovem, V. Kurien, vem trabalhar para compensar a sua bolsa de estudos nos EUA. Talvez não pensasse ir para além do minimo, mas vê o grande potencial de transformar a sociedade, mobilizando os agricultores na criação de riqueza. Paga bem o leite que os cooperantes entregam, e dá bons preços ao consumidor final. Só o consegue por o processo de transformação ser muito eficaz e contido nos custos; pelo meio cria produtos de valor acrescentado.

Quando há compra garantida, a um preço aceitável, a produção dispara; e a direcção da cooperativa vai fazendo novos investimentos para ampliar a gama de produtos derivados: leite pasteurizado, queijo, manteiga, baby-food; chocolataria, yogurtes, gelados, mozarella, etc. O sucesso é estrondoso e pedem a Kurien para replicar o modelo noutros Estados; além disso, que organize uma cooperativa para óleos alimentares, onde reinava uma terrível máfia. Tudo feito com dedicação, saber, coragem e patriotismo!

As iniciativas cooperativas de leite abrangem hoje toda a Índia, tendo passado esta a ser o 1.º produtor mundial, ultrapassando os EUA em 1998. Um estudo dizia que 70 milhões de famílias indianas têm hoje um rendimento adicional substantivo dessa actividade. 

Quando uma sociedade é capaz de acalentar abundantes ideias que revolucionam a economia e a sociedade, ela pode dormir descansada. Necessita apenas de dar bom acolhimento às pessoas empreendedoras, que pensam bem e realizam melhor.

Professor da AESE. Presidente da AAPI

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