E que tal Passos Coelho reconhecer que se enganou?
Hostilizar a Grécia não é positivo para os interesses de Portugal.
Ainda não foi desta que a Europa encontrou uma solução para a Grécia. A reunião do Eurogrupo que terminou perto da meia-noite de quarta-feira foi inconclusiva e a eventual resolução de curto prazo de que os gregos desesperadamente necessitam foi adiada para segunda-feira, dia em que os ministros das Finanças do euro voltam a reunir-se. O que vai ficando cada vez mais claro é que, se a solução dependesse de Portugal, a saída para a Grécia resumir-se-ia ou à aceitação incondicional do actual programa de ajustamento, ou ao abandono do euro. Ora nenhuma destas soluções convém aos interesses do nosso país. Enquanto credores, corremos o seriíssimo risco de não recuperar o empréstimo de 1100 milhões de euros que concedemos à Grécia, e na medida em que somos, justamente a seguir à Grécia, o país mais frágil do euro, teria consequências devastadoras para nós qualquer fragilização da moeda única. É por isso que não se entende a hostilidade do Governo, e do próprio Presidente da República, à procura de soluções para o problema dos gregos. Logo Portugal, que provou, ainda há bem pouco tempo, o cálice amargo do isolamento, quando, em desespero, sofria as visitas humilhantes da troika de credores ou era mais ou menos insultado pelas turbas ululantes do Norte da Europa.
Seja qual for a perspectiva, não há uma única razão capaz de explicar a atitude das autoridades de Lisboa, nem mesmo o óbvio distanciamento ideológico face às novas autoridades de Atenas, que não pode nem deve pesar nas questões de Estado. Hoje, como grande parte da Europa já percebeu, a saída que for encontrada para a Grécia vai fazer parte da solução mais global sobre o problema das dívidas europeias. E isso será positivo para Portugal, pois vai aliviar encargos financeiros que podem ser desviados para o crescimento. É por isso que Passos Coelho deve mudar de rumo, ser parte activa nas negociações e, por uma vez, reconhecer que se enganou.