Sou rico. Moro na maior e mais próspera cidade da América Latina. Sou rico. Vivo na locomotiva do Brasil. Sou rico. Reúno uma das maiores variedades culinárias do mundo. Sou rico. Exibo filmes de múltiplas culturas. Sou rico. Musicais ficam meses em cartaz por aqui. Sou rico. Artistas do mundo todo fazem fila para tocar aqui. Sou rico, afinal, que outro povo paga tanto para ver qualquer artista? Sou rico, se tenho tudo isso só posso ser rico.
Tenho um mar de carros enormes circulando (ou não) impávidos com uma única pessoa dentro. Sou rico. Tenho estádio, ou melhor, arena de futebol de primeiro mundo. Sou rico. Sediei uma Copa do Mundo que foi um sucesso apesar do fracasso. Sou rico. Tenho uma das melhores universidades da América Latina, a USP, quebrada com uma dívida de R$ 175 milhões. Mas sou rico ainda assim. Tenho a Polícia mais eficiente do Brasil.
Sou rico. Tenho (ou pelo menos achei que tinha) água em abundância e a maior diversidade vegetal do planeta – a Mata Atlântica. Sou rico. Tão rico que deixei apenas 7% desta floresta como herança para as gerações futuras. Sou rico. Tão rico que reelegi o governo que há 20 anos comanda o Estado mais rico do país. Sou rico. Mas tão rico que reelegi o governo e me dei ao luxo de vender 49% das ações da empresa pública de gestão de água. Rico, mas tão rico, que os investimentos necessários não foram feitos em detrimento de revertê-los como lucros aos acionistas. Como eles, sou rico.
Tenho televisão de tela plana de último modelo. Sou rico. Tenho muito o que fazer. Sou rico. Tenho que continuar a ser a locomotiva do Brasil. Sou rico. Minha indústria tem que continuar produzindo. Sou rico. Pertenço à 7.ª maior economia do mundo. Sou rico. Falta-me luz para produzir. Ainda assim, sou rico. Falta-me educação para eleger meus representantes. Rico. Falta-me educação para cobrá-los. Rico?