Um filme para revelar o Porto ao mundo
Porto Mon Amour, do premiado realizador Gabe Klinger, com os actores Anton Yelchin e Lucie Lucas, conta a história de um americano e de uma francesa que partilham no Porto uma noite que irá mudar as suas vidas.
O projecto foi apresentado esta quarta-feira pela Câmara do Porto, que apoiou a produção do filme com 75 mil euros, numa conferência de imprensa em que intervieram o realizador e os dois actores principais: o americano de origem russa Anton Yelchin, que aos 12 anos contracenou com Anthony Hopkins em Corações na Atlântida (2001), de Scott Hicks, e vem trabalhando nos últimos anos com realizadores como Nick Cassavetes, Jim Jarmusch (produtor executivo de Porto Mon Amour) ou Paul Schrader, e a francesa Lucie Lucas, muito popular em França como protagonista da série televisiva Clem.
Gabe Klinger, um brasileiro que vive desde criança na Europa e nos Estados Unidos e está hoje radicado em Chicago, tinha a intenção de rodar este filme em Atenas, mas Rodrigo Areias, da produtora Bando à Parte, que já trabalhara com Klinger no seu premiado documentário sobre o autor de Boyhood e o cineasta experimental James Benning, persuadiu-o a optar pelo Porto, o que obrigou a uma significativa reescrita do argumento.
Rui Moreira e o vereador da Cultura Paulo Cunha e Silva sublinharam ambos a oportunidade que um filme como este (e com este título) representa para a projecção da imagem da cidade nos circuitos internacionais, tendo o segundo observado que “o Porto é uma cidade fantástica, mas pouco presente na filmografia internacional”. Descontados os filmes de Manoel de Oliveira e algumas outras raras excepções, como Em Clandestinidade (2002), de John Malkovich, ou Esta Noite (2008), de Werner Schroeter, poucos filmes rodados na cidade tiveram circulação internacional relevante, acrescentou Cunha e Silva.
Afirmando que Porto Mon Amour “tem já assegurada uma óptima distribuição internacional”, o vereador acredita que o filme “levará as imagens da cidade ao mundo” e contribuirá para fazer do Porto “um objecto de desejo”.
Klinger mostrou-se muito satisfeito por se ter deixado convencer a filmar no Porto, “uma cidade onde, em qualquer sítio que se filme, basta virar a câmara e está-se no século XIII, e depois no XV, no XVIII, no XX e no século XXI”. Uma particularidade especialmente relevante, diz, num filme em que “é muito importante a discussão do tempo”. E talvez seja justamente o tópico do tempo a ligação mais imediata entre esta longa-metragem de ficção e o seu anterior documentário Double Play: James Benning and Richard Linklater.
Lucie Lucas elogiou “a alma” da cidade e a simpatia das pessoas, e Anton Yelchin defendeu que “não seria possível fazer este filme numa cidade sem esta profunda presença do tempo, onde se sente em todo o lado essa energia de uma mudança que se processa ao longo de séculos”. Uma experiência “muito comovedora e íntima” e que, diz, “influencia inevitavelmente" o modo como interpreta e entende a sua personagem.
Receando ter sido um pouco “esotérico” na tentativa de caracterizar a cidade e a sua relação com ela, Yelchin passou então a “um nível mais prático”, declarando o seu “genuíno amor pela comida portuguesa” em geral e pela francesinha em particular. “Talvez exagere se disser que comi umas 50 mil francesinhas, ou talvez não, perdi a conta, mas o que posso dizer é que estou mesmo apaixonado por esta comida”, confessou o actor, acrescentando: “Não consigo fartar-me de francesinhas, e têm um efeito interessante sobre o meu corpo que só agora começo a compreender”.
Levando-o à letra, não é de excluir que esta passagem pelo Porto acabe por mudar mesmo a sua vida, como aconteceu à personagem que interpreta em Porto Mon Amour: “Estou a pensar abrir um espaço em Los Angeles que servirá apenas francesinhas”, diz. “Se apresentar a francesinha ao público americano, acho que em poucos anos estarei em posição de poder financiar filmes”.
Além deste filme, com estreia prevista para 2016, a Câmara do Porto apoiou ainda com 20 mil euros o documentário O Sentido da Vida, do realizador Miguel Gonçalves Mendes, autor de Autografia (2004), sobre Mário Cesariny, ou José e Pilar (2010).
Com estreia mundial prevista em seis países, o filme narrará a história real de um jovem brasileiro, descendente de italianos e portugueses, que descobre que tem paramiloidose, doença que surgiu na zona da Póvoa de Varzim e Vila do Conde e foi transportada, por marinheiros, para vários pontos do planeta. Talvez pelo simbolismo da relíquia para a história das relações entre Portugal e o Brasil, o cineasta filmou no mês passado a abertura do cofre onde se conserva o coração de D. Pedro IV, que o monarca doou ao Porto pelo papel que a cidade desempenhou na luta contra o absolutismo.