A utopia possível

Ken Loach documenta a ascensão e queda do sonho de uma sociedade mais justa na Inglaterra do pós-guerra.

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Mas apesar dos dois anos de atraso com que nos chega, a verdade é que O Espírito de ‘45 – provavelmente o seu melhor filme em largos anos – transcende o activismo para falar aos nossos dias de austeridade, contando a história da vitória do Partido Trabalhista nas primeiras eleições após o fim da guerra e o modo como ela redesenhou a paisagem social e política britânica.

A intenção do governo de Clement Attlee era prolongar no pós-guerra o espírito de unidade e coesão que embalou Inglaterra de 1939 a 1945, numa espécie de “grande experiência democrática” que veio mudar os parâmetros do velho império entretanto desaparecido. Loach contrasta a esperança desses “amanhãs que cantam” com o seu desmantelamento dessa sociedade às mãos do governo de Margaret Thatcher, sem ilusões quanto às “batalhas a travar” mas sugerindo que só reclamando esse espírito utópico se poderá inverter a “curva descendente” da sociedade. A força das imagens de arquivo e dos testemunhos recolhidos é suficiente para transcender o classicismo algo rígido da apresentação, mas sente-se mais alma em O Espírito de ‘45 no que na última meia-dúzia de ficções assinadas pelo cineasta britânico.

 

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