Militares do Sudão violaram 221 mulheres em 36 horas

Em três operações, militares sudaneses entraram numa localidade no Darfur, assaltaram casas, bateram e violaram mulheres e raparigas, denuncia relatório da Human Rights Watch. Residentes foram torturados por denunciarem atrocidades.

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Rapariga num campo de deslocados no Norte do Darfur Mohamed Nureldin Abdallah/Reuters

A violação em massa começou a 30 de Outubro de 2014, e dois militares, em separado, disseram à organização que os seus superiores lhes deram mesmo ordens para violar mulheres. Ao todo, a HRW tem documentados 27 casos de violação e obteve “informação credível” sobre outros 194 incidentes.

“Imediatamente a seguir a entrarem, eles disseram: 'Mataste o nosso homem. Vamos mostrar-te o inferno'”, contou uma mulher com uns 40 anos, descrevendo o ataque a si própria e às suas três filhas, duas delas com menos de 11 anos. “Depois começaram a bater-nos. Violaram-me e às minhas três filhas. Uns seguravam na rapariga enquanto outro a violava. Fizeram isso a uma de cada vez.”

Em três operações militares, as forças armadas sudanesas “entraram em casas de pessoas e roubaram-nas, prenderam homens, bateram-lhes e violaram as mulheres e raparigas dentro das suas próprias casas”, relata a HRW. “Os soldados bateram nos mais novos e violaram as minhas [três] filhas mais velhas, [todas com menos de 15 anos]. Taparam a boca com roupa para que não se ouvisse elas a gritarem”, disse outra mulher. Esta contou que os soldados lhe bateram e arrastaram-na para fora de casa.

Há ainda relatos de, em duas noites, os soldados terem forçado grupos de homens, a quem bateram e ameaçaram, a saírem para os subúrbios de Tabit, de forma a deixarem as mulheres e crianças sozinhas e vulneráveis aos ataques. 

Desde estes acontecimentos que os residentes têm vivido “numa prisão a céu aberto” com a sua liberdade de movimentos controlada pelos militares, disse um dos habitantes de Tabit à HRW. Segundo esta organização, o Governo impediu o acesso das Nações Unidas a Tabit e várias testemunhas disseram que foram ameaçadas de prisão e morte se falassem dos ataques.

Há também denúncias de quem tivesse sido mesmo preso e torturado por falar. “Eles disseram que se eu falasse sobre o que tinha acontecido em Tabit estava acabado… Eles pontapearam-me. Agarraram-me e viraram-me de cabeça para baixo. Bateram-me com chicotes e fios eléctricos”, contou um homem que diz ter sido levado para uma prisão militar depois de o terem ouvido falar com um familiar.   

“O ataque a Tabit e a violação em massa de mulheres e raparigas representa uma nova escalada no catálogo de atrocidades no Darfur”, disse Daniel Bekele, o director para África da HRW.

As primeiras notícias a denunciar estes casos foram dadas a 2 de Novembro por uma estação baseada na Holanda, a Radio Dabanga, especifica a HRW. As autoridades do Sudão rejeitaram as acusações e impediram o acesso a Tabit aos observadores internacionais. Mais tarde, a 9 de Novembro, a HRW diz que foi dado às forças da paz “um breve acesso” à localidade, mas que estas “foram impedidas de levar a cabo uma investigação credível”.

Apesar das restrições de acesso ao local, em Novembro e Dezembro a HRW conseguiu falar por telefone com 50 residentes e antigos residentes, entrevistar membros do Governo, pessoas da missão humanitária das Nações Unidas/União Africana (UNAMID – formada em 2007 para proteger civis, entre outras coisas) e pessoal local que monitoriza os direitos humanos. Como sublinham, a violência sexual tem estado presente nos recentes ataques a civis em várias partes do Sudão, algo que a própria HRW denunciou em Novembro de 2014 – são ataques sobretudo perpetrados pela força militar criada recentemente pelo Governo, a Rapid Support Forces (RSF), contra “comunidades com ligações aparentes aos rebeldes do estado Nilo Azul”, dizem. É a partir deste estado no Sul do país que actuam os rebeldes da Frente Revolucionária Sudanesa, inimigos jurados do Presidente Omar al-Bashir.

Os ataques do Governo a civis são constantes, acrescenta o relatório da HRW, lembrando que um painel de peritos das Nações Unidas denunciou que mais de três mil localidades foram incendiadas em 2014 no Darfur, na maioria em ataques liderados pelo Governo. Quase meio milhão de pessoas foi deslocado por causa de ataques em 2014, e 70 mil nas primeiras semanas de 2015, acrescentam ainda, citando dados da ONU. O Tribunal Penal Internacional (TPI) tem várias queixas pendentes contra Omar al-Bashir por crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio, lembra ainda.

A HRW apela às Nações Unidas e à União Africana para tomar medidas urgentes de protecção aos residentes e fazer uma investigação. 

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