Jon Stewart diz adeus ao Daily Show

Jon Stewart anunciou que está na altura de o programa ter outra pessoa nos comandos.

Foto
Jon Stewart Olivier Douliery/Abaca Press/MCT

Stewart, de 52 anos, é um dos mais notáveis comediantes americanos, tendo-se destacado pela sua participação no Daily Show, um programa satírico onde entrevistou inúmeras personalidades americanas, incluindo Barack Obama, e que se tornou uma referência da actualidade satirizada.

Emocionado, disse no programa de terça-feira que estava na altura de outra pessoa ter a oportunidade que teve há 16 anos. “Ainda estamos a trabalhar nos detalhes, pode ser Setembro, Dezembro, ainda estamos a trabalhar nisso”, disse Stewart, explicando então que ainda não há uma data definida para a sua última aparição à frente do Daily Show – um dos mais carismáticos programas da televisão norte-americana. Em Portugal, o Daily Show é transmitido pela SIC Notícias.

“Não tenho planos específicos nenhuns”, continuou. “Tenho muitas ideias. Muitas coisas na minha cabeça. Vou jantar numa noite de escola com a minha família, de quem eu ouvi de várias fontes serem umas pessoas adoráveis.” 

Jon Stewart estreou-se como apresentador do Daily Show em Janeiro de 1999, sucedendo a Craig Kilborn. Não se conhece ainda o nome do sucessor. Uma coisa é garantida, disse o apresentador que também é produtor e argumentista do programa, o Daily Show tem ainda muitos anos pela frente.

“Nas últimas duas décadas, tivemos a incrível honra e privilégio de trabalhar com Jon Stewart. O seu brilhantismo cómico não fica atrás do de ninguém”, diz um comunicado da Comedy Central.

“O Jon vai ficar à frente do The Daily Show até ao final deste ano. É um génio da comédia, generoso no tempo e talento, e será sempre parte da família da Comedy Central,” acrescenta o mesmo comunicado, sem explicar as razões da saída.

Numa conversa com os jornalistas em Novembro, onde o apresentador falou sobre a sua estreia como realizador com Rosewater (filme passado no Irão baseado nas memórias Then they came for me, do jornalista e realizador canadiano-iraniano Maziar Bahari, preso quando cobria as eleições presidenciais daquele país em 2009), Jon Stewart não hesitou quando interrogado sobre os seus planos para depois de o seu contrato com o Daily Show terminar no Outono: “Fazer uma sesta”.

Evitando quaisquer compromissos sobre o futuro, disse na altura que estava à espera de “um momento de pausa” para conseguir com alguma clareza tomar uma decisão, sem ser influenciado por factores alheios como a sua própria “exaustão”.

Para filmar Rosewater, que chegou às salas norte-americanas em Novembro do ano passado, Jon Stewart teve de fazer uma interrupção de três meses do Daily Show. 

Numa entrevista à NPR, por volta dessa altura, Stewart elaborou mais um pouco sobre a saída do programa. “Não podes simplesmente ficar no mesmo lugar (...), eu luto contra isso”, dizia o apresentador com a certeza de que no momento em que decidisse que ficaria por ali, iria sentir falta do programa. 

Segundo o New York Times, o Daily Show teve no ano passado uma média de 2,2 milhões de espectadores por noite. Um olhar satírico sobre a realidade, um olhar sem pudor à esquerda e à direita. Um formato que conquistou público em todo o mundo. Em Portugal, por exemplo, os Gato Fedorento apresentaram Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios e não fugiram às comparações com o formato norte-americano e com o próprio Jon Stewart.

Apesar de satírico, Jon Stewart é visto como uma fonte credível, cuja opinião interessa ouvir. Desde que está à frente do programa, o Daily Show ganhou 20 Emmys, os prémios mais importantes da televisão, além de muitas outras distinções. O programa fica também marcado, e muito se deve a Stewart, por ter dado a conhecer outros humoristas que entretanto fizeram carreira. São normalmente os correspondentes que o apresentador traz para o programa e que aos poucos se destacam pela sua qualidade.

É o caso Steve Carell, John Oliver ou de Stephen Colbert. Este último começou no Daily Show em 1997, ainda antes da chegada de Jon Stewart, e em 2005 obteve o seu próprio programa - Colbert Report, era uma rubrica do The Daily Show e transformou-se num programa autónomo. Entretanto, em Maio do ano passado, também Colbert anunciou que vai deixar o seu programa para apresentar o The Late Show, da CBS, sucedendo a David Letterman.

“Não ache que vá ter saudades de estar todos os dias na televisão”, disse o apresentador. “Vou ter saudades de cá vir todos os dias. Adoro as pessoas aqui. São criativas, gentis e colaboram”, acrescentou. “Tem sido a honra da minha vida.”

As reacções ao anúncio de Jon Stewart não tardaram. Nas redes sociais multiplicaram-se as mensagens para o apresentador que já foi considerado pela Forbes como uma das 100 mais influentes personalidades do mundo. Políticos, actores, escritores, celebridades da televisão. As reacções demonstram bem a influência de Stewart. Segundo os números revelados pelo Twitter nesta quarta-feira de manhã, foram feitos já mais de 132 mil tweets em referência a Jon Stewart. O pico aconteceu por volta do anúncio, ou seja, quando o programa estava no ar, com uma média de 2752 tweets por minuto. 

Craig Ferguson, que recentemente abandonou o seu próprio talk-show, reagiu no Twitter, congratulando Stewart pela sua “extraordinária e inovadora corrida”. “Jon Stewart vai deixar o Daily Show, um dos meus programas favoritos de sempre. É uma notícia enorme para superar no chá da manhã”, escreveu no Twitter a escritora britânica J. K. Rowling. 

Bill de Blasio, mayor de Nova Iorque, partilhou uma foto de uma participação sua recente no programa onde está a brindar com Stewart. “Um brinde ao pivô das fake news que disse grandes verdades durante as suas piadas mais tontas”, escreveu o mayor também no Twitter.

O apresentador da CNN Anderson Cooper mostrou-se surpreendido com a notícia, enquanto o britânico Piers Morgan reagiu de forma menos positiva ao questionar o timing da decisão do apresentador. “Ele começava a ser eclipsado pelo John Oliver. Desta forma, pode sair por cima”, defendeu Morgan, apontando “o mar de mudança” que a televisão dos Estados Unidos enfrenta.

Sugerir correcção
Ler 7 comentários