Áustria critica Alemanha e fala de "programa lógico" da Grécia
Chanceler austríaco recusa perdão da dívida, mas diz que reformas fazem mais sentido do que privatizações como resposta à crise.
Numa entrevista ao diário Kurrier, Faymann destacou-se dos restantes chefes de Governo europeus ao criticar directamente a Alemanha. Disse que a sua homóloga, Angela Merkel, tem uma atitude de “esperar para ver”, de “fazer tudo um pouco tarde”, que está a prejudicar o combate aos problemas económicos da Europa, e afirmou que é necessária uma abordagem mais agressiva contra o desemprego.
Faymann falava na altura da luta contra o desemprego, que no seu país é de apenas 4,9%, a segunda menor da UE atrás da Alemanha. Mas a chanceler conservadora alemã, disse o social-democrata austríaco, está a subestimar os efeitos a médio prazo da perda de poder de compra dos consumidores, e para o contrariar seria necessário uma política “agressiva”.
Em relação à Grécia, Faymann disse que se opunha a um perdão da dívida, e que a Áustria não desistiria dos 8 a 9 mil milhões de euros austríacos em empréstimos e garantias a Atenas. “Mas apoio negociações em condições técnicas para que o país tenha mais margem de manobra para sair da crise.”
O chanceler teve ainda uma palavra de apoio ao plano do primeiro-ministro grego: a sua ideia de lutar contra a corrupção e a fraude fiscal “tem mais lógica do que dizer que tem de se cortar [a despesa] ou privatizar no meio de uma crise”.
Varoufakis diz que 70% do memorando faz sentido
Em Atenas os líderes gregos, por seu lado, continuam a dizer que um acordo vai ser possível. Um dia depois do empolgado discurso de Alexis Tsipras no Parlamento grego, em que prometeu cumprir as promessas eleitorais que revertem várias medidas dos programas de austeridade e ainda levar a cabo uma enorme reforma no funcionamento das instituições gregas, o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, insistiu que é possível um acordo entre a Grécia e os restantes membros da zona euro.
A chave, explicou ao Guardian, é o acordo transitório de “dois, três ou quatro meses” que permita ao país ter liquidez entre o fim do actual programa (de que, insiste, o seu Governo não vai pedir uma extensão), e um acordo global que vigore nos quatro anos seguintes. “Só queremos um pouco de tempo”, disse Varoufakis.
Enquanto Tsipras não recuou nada nas suas propostas, deixando uma pequena fresta para entendimento com o faseamento do aumento do salário mínimo (até 2016), e falou da necessidade de ter contas equilibradas – “Não porque os nossos parceiros nos exijam, mas porque faz sentido” –, Varoufakis sublinhou que não diria que “não” a tudo o que lhe fosse proposto, mas que diria “sim” a propostas “que fizessem sentido”, o que acontece, acrescentou, com cerca de 70% do acordo actual com a troika.
Em Washington, onde estava para um encontro com Presidente norte-americano, Barack Obama, dominado pela situação na Ucrânia, Angela Merkel disse que esperava que a Grécia apresentasse ao Eurogrupo na quarta-feira uma proposta viável e que “o que conta” é essa proposta. Obama sublinhou, pelo seu lado, a importância de um crescimento sustentável da Grécia para a economia global, e para os EUA.