Só foi detectada água doce na roupa de sobrevivente do Meco – mas isso nada prova
Perícias ao vestuário tiveram lugar apenas 11 meses depois da morte dos seis alunos da Universidade Lusófona
“Andamos a tentar recolher as peças do puzzle para saber o que se passou naquela noite. Mas há algumas que nunca vamos conseguir recuperar”, disse, depois de terem sido ouvidos em tribunal, à porta fechada e por videoconferência, as duas peritas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera que examinaram o vestuário. Uma delas terá de ser novamente ouvida mas pessoalmente, o que ficou marcado para terça-feira de Carnaval, por causa da fraca qualidade da ligação à distância. Não foram nem as famílias das vítimas nem a advogada de João Gouveia, que é arguido neste processo, a pedir a audição da bióloga e da geóloga: foi a procuradora do Ministério Público, Ana Margarida Ferreira dos Santos, quem quis ouvi-las. A magistrada pediu também à Vodafone esclarecimentos sobre o funcionamento do sistema das suas antenas, mas as respostas da operadora de telemóveis não foram suficientes para dissipar dúvidas sobre por que razão o aparelho do aluno da Universidade Lusófona accionou naquela noite antenas muito afastadas do Meco, na Caparica e em Oeiras. Poder-se-á ter ficado a dever às condições atmosféricas, referiu a Vodafone.
A testemunhar em Setúbal esteve ainda um perito do Instituto de Medicina Legal, que referiu que a temperatura corporal com que João Gouveia chegou ao hospital Garcia de Orta, 36º, é indício de ter estado em grave situação de hipotermia. Se isso significa ter-se estado quase a afogar como aconteceu aos colegas, conforme sempre tem mantido, foi algo a que o médico não soube responder, tendo remetido para os seus colegas do Instituto Nacional de Emergência Médica que assistiram o dux ainda no Meco e para os do hospital – que o juiz não autorizou, pelo menos até agora, que sejam ouvidos em tribunal, apesar das insistências das famílias dos jovens afogados.
Sobre a temperatura com que o dux terá sido encontrado na praia do Meco, 34º, o perito do Instituto de Medicina Legal afirmou nunca ter visto ninguém nessa situação sobreviver. "Mas o médico também afirmou que seria possível acontecer", relatou a advogada de João Gouveia, Paula Brum, que garantiu que, ao contrário do que tem sido noticiado, o seu cliente não entregou a roupa que vestia naquela noite às autoridades ainda molhada, três meses depois dos acontecimentos. “Se as roupas foram entregues secas por que apareceram molhadas?!” questiona Vítor Parente Ribeiro, que, tal como as famílias dos jovens desaparecidos, gostava de ver o antigo aluno da Universidade Lusófona explicar este e outros factos no Tribunal de Setúbal. Mas João Gouveia não esteve nem vai estar aqui: invocou uma prerrogativa legal que lhe permite renunciar a estar presente e, portanto, a ser inquirido, como estava previsto que acontecesse. Remeteu os esclarecimentos sobre o que se passou para os depoimentos que já prestou às autoridades durante a fase de inquérito.