Jordânia assume como sua a luta contra o Estado Islâmico

Milhares manifestaram-se em Amã para repudiar morte de piloto e exigir vingança. Dezenas de caças bombardearam bastiões dos jihadistas na Síria e, pela primeira vez, também no Iraque.

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A rainha Rania participou na manifestação desta sexta-feira em Amã Petra News Agency/Reuters

“Isto é apenas o início – ireis ficar a saber quem os jordanos são”. Foi com este aviso que os militares jordanos anunciaram que os seus aviões tinham atacado nessa manhã “campos de treino e depósitos de armas e munições” do califado que o EI proclamou entre a Síria e o Iraque. “Todos os alvos foram destruídos”, adianta a proclamação, em que o Exército promete “ser fiel ao herói e mártir Moaz” e “sacrificar tudo para defender os verdadeiros valores do Islão”.

O comunicado não revela onde atacaram os aviões, mas fontes da segurança jordana adiantaram à Reuters que os alvos se concentraram em Raqqa, capital da província com o mesmo nome no Norte da Síria onde o EI instalou o seu quartel-general, e na vizinha região de Deir Ezzor, na fronteira com o Iraque. Numa entrevista à televisão norte-americana Fox News, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Nasser Judeh, confirmou que a maioria dos ataques ocorreu na Síria – onde apenas as nações árabes da coligação apoiam as operações da Força Aérea americana – mas adiantou, sem mais explicações, que alguns aviões entraram no espaço aéreo do Iraque, algo que até agora não tinha sido admitido por Amã.

 “A Jordânia perseguirá com todas as suas forças o Daash [acrónimo por que é conhecido na região o EI] não importa onde ele esteja”, explicou o chefe da diplomacia, numa outra entrevista à CNN, assegurando que os ataques de quinta-feira “são apenas o início da retaliação” pela morte de Kasasbeh, queimado vivo pelos jihadistas depois de o seu avião se ter despenhado na região de Raqqa, no final de Dezembro.

A notícia da sua execução, e sobretudo o vídeo em que a propaganda dos jihadistas mostra os instantes finais da vida do piloto, fechado numa cela e regado com gasolina, criaram ondas de choque por todo o país, transformando a discreta participação da Jordânia na coligação liderada pelos EUA numa prioridade nacional. “Vamos persegui-los e erradicá-los. Estamos na primeira linha de combate. Esta é uma batalha nossa”, afirmou Judeh, ecoando a promessa feita na véspera pelo rei Abdullah quando foi à terra natal de Kasasbeh prestar-lhe homenagem – simbolicamente, no momento em que se reunia com o pai do piloto, a tenda foi sobrevoada por caças que a imprensa jordana assegurou serem aqueles que regressavam dos ataques na Síria.

“Somos todos Moaz” e “Sim à punição e à erradicação do terrorismo”, eram alguns dos cartazes empunhados pelos milhares que nesta sexta-feira se juntaram, depois das orações do meio-dia, em redor da mesquita Al-Husseini, no centro da capital. A rainha Rania juntou-se aos manifestantes, levando também ela uma fotografia do piloto assassinado. “Estamos aqui para manifestar a nossa cólera. Somos todos soldados ao serviço do nosso comandante e estamos dispostos a combater o Daash para vingar o piloto”, disse à AFP um dos manifestantes.

A execução de Kasasbeh “tornou a ameaça do EI pessoal”, escreveu a correspondente da revista The Atlantic, contrastando a desconfiança e até desagrado com que, no Verão passado, muitos jordanos reagiram à decisão de Abdullah de envolver o país na ofensiva aérea contra os jihadistas, ao sentimento de revolta que agora inunda o país. O próprio pai do piloto, que agora lidera os apelos à vingança, reagiu ao seu sequestro queixando-se que o monarca tinha enviado o filho para combater numa guerra alheia à Jordânia.

A notícia da sua morte e o vídeo da bárbara execução “foram um ponto de viragem para a Jordânia”, disse à revista Ali Osama, um advogado de Amã. “Antes era o Estado que nos empurrava para a coligação. Agora somos nós que queremos lá estar.” Um fervor de orgulho ferido que levou a Jordânia a executar, poucas horas depois de conhecida a morte do piloto, dois jihadistas iraquianos, e que se manifesta em vídeos como o que a Força Aérea divulgou quinta-feira, mostrando militares a escrever mensagens nos mísseis que os caças jordanos largariam pouco depois sobre a Síria.

Robert Daneen, especialista do Médio Oriente do Council of Foreign Relations, disse à AFP que a rápida resposta de Abdullah, um monarca conhecido pela prudência e pragmatismo, demonstra que ele tem “uma visão clara da ameaça que o EI representa para o seu reino e a segurança regional”. Mas se para Washington o maior envolvimento de um aliado árabe na ofensiva é bem-vindo, a Jordânia sabe que esse protagonismo “pode ter graves consequências”, explicou à mesma agência o analista Nadim Chahada, recordando que a Jordânia partilha fronteira com a Síria e com o Iraque e alberga islamistas radicais que já manifestaram a sua simpatia pela agenda do EI.

Razões que levam o chefe da diplomacia jordana a mostrar-se evasivo quando questionado sobre as notícias de que Amã estaria a ponderar enviar tropas para combater os jihadistas no terreno. “Precisamos ter em conta vários factores, como as operações militares em curso, a garantia de segurança regional, bem como os objectivos de mais longo prazo como o combate à ideologia deste grupo”, afirmou.

 

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