“As crianças não têm de continuar a passar por isto”

Centenas de habitantes saíram esta sexta-feira de Debalteseve, que se tornou um dos lugares de maior intensidade da guerra da Ucrânia.

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Habitantes de Debaltseve, no inerior de um dos autocarros Sergey Polezhaka/Reuters

Artem Nikishin escolheu os autocarros que iam para território controlado pelas forças de Kiev. “As duas últimas semanas foram um inferno. Vamos para território ucraniano, temos lá família”, disse, com a mulher e os dois filhos, à entrada do veículo com destino a Slaviansk. “Isto é o que temos agora”, disse Artem , 31 anos, apontando para algumas malas e um embrulho feito com um cobertor.

Svetlana, Artem, as suas famílias e centenas de outros civis deixaram esta sexta-feira Debalteseve, durante a trégua de algumas horas acordada entre as partes, para permitir a saída de civis encurralados, que têm vivido sem electricidade e com pouca água e comida.

Controlada por forças de Kiev, mas quase completamente cercada, a cidade tornou-se, nas últimas semanas, um dos lugares de maior intensidade do conflito no Leste da Ucrânia. Debalteseve é um estratégico nó ferroviário que liga as cidades rebeldes de Donetsk e Lugansk.

Nas últimas três semanas, mais de duas centenas de civis foram ali mortos, segundo as Nações Unidas. “As balas voam sobre as nossas cabeças. Temos de encontrar abrigo. Há muitos mortos, tapados com cobertores. E não se pode enterrá-los, porque ninguém quer abrir sepulturas no meio deste caos”, dizia na terça-feira um habitante citado pela Euronews. Mesmo depois das partidas desta sexta-feira, em Debalteseve, onde antes da guerra viviam 25 mil pessoas, ficaram ainda três mil, segundo Oleksandr Klimenko, um responsável do Governo ucraniano.

Durante a manhã, convergiram para a pequena praça junto ao edifício da administração local dezenas de autocarros dos dois campos – 20 proveniente de território controlado pelo Exército, 30 das áreas rebeldes, segundo a Reuters.

Um repórter da agência que chegou com a coluna separatista viu casas danificadas por bombardeamentos e ouviu tiros de artilharia à distância. No centro, dezenas de militares ucranianos, misturados com civis, esperavam ajuda humanitária ou lugar nos autocarros.

Na estrada para Debaltseve, um jornalista da AFP que se dirigia à cidade cruzou-se com um número de carros que a deixavam em maior número do que em dias anteriores – mesmo com bombardeamentos, nos últimos dias têm partindo residentes, através do único acesso não controlado pelos rebeldes, que tem também servido como “corredor humanitário”, aproveitado por habitantes para fugir, com ajuda do Exército ucraniano ou de voluntários.

 “Entre 500 e 700 pessoas disseram que partiriam hoje”, disse Klimenko. “Para os que vão para Slaviansk temos carruagens de comboio com cobertores e aquecimento e serão distribuídos pela Ucrânia.”

As duas colunas deixaram Debalteseve ao mesmo tempo. Os autocarros que tinham vindo de território controlado pelo Governo ucraniano regressaram cheios, a maior parte dos que vieram da área rebelde voltaram vazios. Um comandante pró-russo, Eduard Basurin, acusou as autoridades ucranianas de não terem informado a população que permanece na cidade sobre a possibilidade de evacuação para a auto-proclamada República Popular de Donetsk. Queixou-se também de disparos de artilharia sobre posições pró-russas quando a coluna de autocarros já estava na cidade.

Tanto os veículos que seriam para território sob controlo do Governo de Kiev como os que viajaram para zonas rebeldes foram acompanhados por monitores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

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