Um meteoro à deriva
The Innocents é o segundo disco da americana Natalie Mering, que hoje se esconde por trás do nome Weyes Blood.
Uma série de canções (como Hang On ou Ashes) assentam quase apenas em guitarra e voz; quando uma flauta vem assombrar February skies, adensa-se a impressão de estarmos presente uma estranha derivação de uma folk pastoral maligna. Mas é a voz – sempre projectada numa colocação quase sacra – que aproxima The Inonocents do universo sombrio de uma Nico ou de uma Buffy Sainte-Marie, quando esta, meio alucinada, gravou Illuminations, disco em que todos os sons eram sintetizados a partir da voz e da guitarra da própria Buffy, que – coitada – anos depois acordou, ouviu a sua voz em God is alive/Magic is afoot (a primeira canção do álbum, escrita pelo malandro Cohen) e renegou a sua própria obra. Requiem for forgiveness, quinta faixa de The Innocents, podia pertencer a esse tremendo disco, mas no resto Natalie Mering, no que resta dos seusInnocents – vítimas de amor e da América, os grande temas que abarcam estas canções –, não vai tão longe na manipulação sonora, embora o som dos pianos e dos bandolins surja “alterado” e a presença de órgãos estranhos o aproxime dessa atmosfera de alucinação, de irrealidade.
O seu pathos reside em algo mais terreno: o talento da menina para criar sequências de acordes pungentes (de que a espantosa Hang On, a comovente Summer ou a lindíssima Bad Magic serão o melhor exemplo) em que as melodias de voz (coros inclusive), são projectadas com uma grandiloquência que nos sufoca. The Innocents não é nem o passado nem o futuro de folk alguma – é um meteoro à deriva, incandescente, fora do tempo e das coordenadas da música popular, e a queimar, a queimar.