Operação Lava Jato: tesoureiro do PT suspeito de receber milhões em luvas

O cerco aperta-se e há quem considere que Dilma Rousseff e o seu Governo estão a entrar numa "tempestade perfeita". Até ao fim do mês, a operação Lava Jato que investiga a corrupção à volta da Petrobras vai chegar a mais políticos em altos cargos.

João Vaccari Neto, o tesoureiro do PT suspeito de ser o intermediário no pagamento de luvas
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João Vaccari Neto, o tesoureiro do PT suspeito de ser o intermediário no pagamento de luvas ROOSEWELT PINHEIRO/AFP
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Manifestação no Rio de Janeiro pedindo a saída de Dilma da presidência CHRISTOPHE SIMON/AFP
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Dilma Rousseff tem uma presidência "precocemente enfraquecida" Ueslei Marcelin/Reuters

Neto foi denunciado por um delator, Pedro Barusco, preso durante a operação conhecida por Lava Jato e que negociou imunidade a troco de informações. O jornal O Globo diz que Barusco revelou à polícia que Neto recebeu, "em nome do PT", 200 milhões de dólares relativos ao pagamento de luvas sobre 90 contratos feitos entre 2003 e 2013. A título individual, e pelo seu papel, disse o denunciante, o tesoureiro ganhou 50 milhões de dólares.

O período a que os contratos se referem apanha duas pessoas na presidência, Lula da Silva (Janeiro de 2003-Janeiro de 2011) e Dilma Rousseff (desde Janeiro de 2011, reeleita em Outubro de 2014).

Além de ter sido detido para prestar declarações, o tesoureiro do PT viu a sua casa em São Paulo ser alvo de buscas para apreensão de documentos logo ao início da manhã, quando a polícia federal deu início à fase nove da operação Lava Jato.

A investigação, que recebeu o nome que os brasileiros usam para o sistema de lavagem automática de carros, arrancou em Março de 2014 e tem vindo a revelar um gigantesco esquema de troca de favores envolvendo sobretudo o partido no poder, mas não só. Um dos primeiros visados na investigação a crimes de fraude, corrupção activa, lavagem de dinheiro e associação criminosa foi Alberto Youssef, empresário envolvido em escândalos bancários e em lavagem de dinheiro ("doleiro", como se diz no Brasil). Youssef decidiu falar e, entre os esquemas que revelou e os nomes que denunciou, estão os de Lula da Silva e Rousseff, que, disse à polícia, estavam a par do esquema envolvendo a Petrobras e usavam os contratos para obter fidelidades eleitorais.

Apesar de a Presidente ter dito que a luta contra a corrupção é uma das suas prioridades, o seu Governo está cada vez mais fragilizado e a opinião pública já fala na necessidade de haver um processo de destituição – foi o que pediram os manifestantes que, no final do ano passado, saíram à rua em várias capitais estaduais, e os que protestaram nesta quinta-feira, no Rio de Janeiro, com cartazes a dizer "Fora Dilma".

"O Governo [o segundo mandato de Dilma] começa no meio de uma tempestade perfeita. Há uma situação frágil de governabilidade", disse o analista político Fernando Abrucio à Folha de São Paulo. O historiador Daniel Aarão Reis considerou que Dilma Rousseff está "precocemente enfraquecida".

Nos próximos dias e semanas, o panorama deverá piorar para o PT e para Dilma Rousseff, que, na quarta-feira, foi obrigada a destituir a presidente da Petrobras, Graça Foster – uma escolha pessoal da Presidente e até agora não visada pelas investigações –, e toda a equipa directiva da petrolífera estatal, como lhe vinha a ser pedido há meses, mas que terá ido adiando para que o escândalo Lava Jato não assumisse maior dimensão durante a fase final da campanha eleitoral. Entre os que foram detidos em fases anteriores do Lava Jato estão os ex-directores da Petrobras Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Nestor Cerveró, além de altos executivos de grandes empresas de construção brasileiras.

A dimensão do caso aumenta. Nesta quinta-feira, a polícia federal cumpriu 18 mandatos para depoimento coercivo e 40 buscas com apreensão em casa de responsáveis empresariais e políticos em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina. E vão ser ouvidos responsáveis de mais 26 empresas, avançava o Estado de São Paulo.

Ainda esta semana, diz o Folha de São Paulo, vão ser recolhidos depoimentos de responsáveis de empresas suspeitas, que podem envolver ainda mais nomes na teia. E, avança este jornal, ainda este mês o Ministério Público vai apresentar denúncias contra políticos, entre eles 30 deputados, incluindo os presidentes da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros (já acusado no passado de corrupção, mas absolvido pelos seus pares no Senado), ambos do PMDB (centro-direita, aliado do Governo). O escândalo já provocou a demissão do vice-presidente da Câmara de Deputados, André Vargas (PT).

 

Notícia corrigida: PMDB é o partido na coligação governamental, não na oposição.

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