Fotografia
O pó que deixamos para trás
Klaus Pichler fotografa aquilo que todos tentamos apagar das nossas vidas, algo que todos consideramos repugnante, pouco saudável, um inimigo natural. Os resíduos que se depositam nos espaços que frequentamos, vulgo pó, não têm de ser cinzentos e aborrecidos. O fotógrafo austríaco aprendeu que o pó recolhido numa alfaiataria é colorido e bonito, ao contrário do pó de uma livraria, que é tão fino nem forma aglomerado. O pó dos locais define-os e define também os seus visitantes.
Na elaboração do projecto Dust, o autor visitou mais de 150 locais: hotéis, transportes públicos, áreas de lazer, discotecas, museus, cafés, escolas, universidades, oficinas, empresas, lojas, locais de culto, etc. e todos apresentavam grandes variações de aspecto e textura. Entrava nos locais sem marcação e confundia os proprietários com uma pergunta simples: "Importa-se que recolha algum pó aqui?" Se ficassem demasiado perplexos para recusar, de joelhos colhia o que se encontrava nas esquinas, recantos e fendas dos locais.
O autor conta ter-se divertido bastante com as reacções dos proprietários, que flutuavam entre o divertimento e a confusão, entre o embaraço e a paranóia. Após a recolha, Pichler organizava e catalogava as amostras cientificamente. "Colho as massas de pó com recurso a uma pinça e coloco-as em placas de Petri numeradas. Em casa, são arquivadas, numeradas e inventoriadas."
A ideia para o projecto surgiu durante uma mudança de apartamento. Notou que o pó da sala apresentava cores e características diferentes do que encontrava no quarto e isso levou-o a aprofundar a pesquisa. "Vivemos numa sociedade ultra-higienizada. É um símbolo de 'status' apresentar um espaço perfeitamente imaculado e existe uma indústria inteiramente contruída em volta da extição do pó. (...) Não importa o quanto limpamos, o pó irá sempre ripostar." "Dust" é o livro do projecto e pode ser adquirido online. Klaus Pichler publicou no P3 o projecto "Just the Two of Us" em Novembro de 2013.