Grécia quer acordo sobre a dívida "até ao fim de Maio"
França está disponível para ajudar novo Governo de Atenas a chegar a um entendimento com os parceiros internacionais. Mas exclui perdão da dívida.
Mas Varoufakis, que falava em Paris, depois de um encontro com o ministro francês das Finanças, Michel Sapin, pediu tempo para explicar a posição do novo Governo grego aos parceiros europeus.
O ministro espera colocar “em cima da mesa” as propostas detalhadas do Executivo de Atenas sobre a dívida até ao fim de Fevereiro. “Depois, no prazo de um mês, talvez seis semanas, poderemos chegar a um acordo”, disse, citado pela AFP, na conferência de imprensa conjunta que seguiu ao encontro.
Varoufakis disse que o pagamento da dívida deve estar ligado à retoma do crescimento e que o seu país se tornou “viciado em endividamento”. “Fomos eleitos para pôr fim a essa dependência”, declarou.
O prazo fixado pelo ministro é compatível com os compromissos da dívida – o país precisará de dez mil milhões de euros para a financiar, mas só no Verão. A questão que exigirá um entendimento no mais curto prazo é o acesso da banca grega ao Banco Central Europeu para assegurar a liquidez, depois de terminar o actual programa da troika, no final de Fevereiro.
Em Paris, Varoufakis ouviu Michel Sapin manifestar disponibilidade da França para ajudar o novo Governo grego a chegar a um acordo com os parceiros internacionais sobre a dívida. O ministro francês considerou legítima a preocupação de Atenas em alivar esse fardo. Frisou, segundo a Reuters, que o lugar da Grécia é na zona euro e acrescentou que qualquer novo acordo deve ter em conta as reformas estruturais que o Executivo se prepara para apresentar.
Horas antes do encontro, Sapin disse à televisão Canal+ que é legítimo o Governo de Atenas querer discutir formas de redução do peso da sua dívida, mas excluiu um cenário de perdão. “Podemos discutir, podemos dilatar o pagamento no tempo, podemos reduzir o seu peso, mas não anular”, disse.
Varoufakis disse que deseja deslocar-se em breve a Berlim, Helsínquia, Bratislava, Madrid e Frankfurt, sede do Banco Central Europeu, para explicar a posição do seu Governo. Afirmou já ter recebido uma amável carta do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaeuble, à qual já respondeu, e adiantou que poderia ser marcado um encontro em 24 horas.
A Alemanha é uma forte defensora da disciplina orçamental e detém uma parte importante da dívida grega. A chanceler afastou, no sábado, a possibilidade de a perdoar. “Não vejo como pode haver um novo perdão”, afirmou, depois de recordar que já houve uma redução da dívida por parte de credores privados.
Uma sondagem divulgada este domingo pelo Bild am Sonntag indica que 62% dos alemães são favoráveis à manutenção da Grécia no euro e que apenas 26% querem o país fora da moeda única. Revela também que 68% são contra um abate da dívida.
Não há choque Norte-Sul
O ministro afastou a ideia de um choque de interesses entre países da União Europeia. “Quem considerar que há um conflito entre o Norte e o Sul é inimigo da Europa. Não é esse o espírito com que estamos a reunir-nos com os nossos parceiros”, disse, segundo o jornal grego Kathimerini.
Em Paris, Varoufakis quis também clarificar a declaração que motivou a crispação de Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças holandês, na sexta-feira, em Atenas, quando disse não querer dialogar com a delegação da troika. “É um grupo de tecnocratas. Parte do nosso mandato é repensar o programa [de assistência financeira]. Os tecnocratas não estão autorizados a fazê-lo”.
A visita a França foi a primeira etapa da ofensiva diplomática grega para procurar apoios para renegociar a dívida pública. Segunda-feira estará em Londres e na terça em Roma. O primeiro-ministro, Alexis Tsipras, vai na terça a Roma e na quarta a Paris. Está também previsto um encontro com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, ainda sem data marcada.
Para os encontros que está a ter, Varoufakis preparou uma “abordagem técnica do dossier”, com “argumentos rigorosos e quantificados”, que lhe permitam “obter apoios”, disse a sua equipa à AFP.
A sua linha de argumentação passa por sublinhar que a austeridade não penaliza apenas a Grécia. “Somos contra [o programa de austeridade], não só porque não beneficia a Grécia, mas também porque é muito prejudicial para toda a Europa”, disse ao semanário grego To Vima.
“Não esqueçamos que isto não é apenas uma crise grega. Temos a Itália, cuja dívida não é viável; a França, que sente a deflação soprar na nuca; e mesmo a Alemanha entrou em deflação”, numa fase de baixa de preços, afirmou, citado pela AFP.
Depois da tensão provocada pela declaração de que Atenas não quer dialogar com a delegação da troika, as mais recentes declarações dos dirigentes gregos vão no sentido de um apaziguamento ou, na sua versão, de esclarecimento da sua posição.
Na sexta-feira à noite, Alexis Tsipras telefonou ao governador do Banco Central Europeu, Mario Draghi, para sublinhar palavras que já pronunciou mais do que uma vez nos últimos dias: "A vontade de encontrar uma solução mutuamente benéfica para a Grécia e para a Europa”.
A mesma fonte oficial que deu esta informação à Reuters disse que, já depois da tensa conferência de imprensa de Varoufakis e Dijsselbloem, o presidente do Eurogrupo telefonou ao chefe do Governo grego para lhe assegurar que as negociações continuam.
No sábado, num comunicado, Tspiras garantiu que “ninguém quer entrar em conflito” e nunca houve “intenção de agir de maneira unilateral”. O novo primeiro-ministro grego disse precisar de “tempo para respirar" e para criar um “programa de recuperação de médio prazo”.
Numa declaração à agência Bloomberg, o chefe do Governo declarou-se “absolutamente confiante” de que em breve se chegará a um “acordo mutuamente benéfico, tanto para a Grécia como a Europa no seu todo”. “A discussão com os nossos parceiros europeus apenas começou.”