Passos diz que dados sobre pobreza não reflectem situação do país
Primeiro-ministro justificou a sua governação e garantiu que o pior já passou. Presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social diz que não sente que o pior já tenha passado.
“A notícia como, eu referi, que veio ontem [sexta-feira], divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística, é um eco daquilo por que passámos, não é a situação que vivemos hoje, reporta àquilo que foi a circunstância que vivemos, nomeadamente em 2013 que foi, talvez, o ano mais difícil em que o reflexo de medidas muito duras tomadas ao longo do ano de 2012 acabaram por ter por consequência”, afirmou Passos Coelho.
À margem de um almoço dos órgãos sociais da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS), onde Passos Coelho participou, Lino Maia, actual presidente da CNIS e candidato único à liderança da confederação (cujo acto eleitoral decorre neste sábado), disse não sentir que "a fase mais difícil" já tenha passado, considerando que o risco de pobreza se mantém.
“O que noto é uma esperança maior no povo português, uma maior confiança”, afirmou. E acrescentou: “Não estou muito confiante que agora, com uma varinha mágica, vamos chegar a um momento melhor, agora estou confiante nisto, não vamos andar permanentemente a expiar culpas passadas, até porque o povo não tinha essa culpa. Se houve de facto problemas não foi propriamente o povo trabalhador o culpado”, sublinhou.
O risco de pobreza continuou a aumentar em Portugal em 2013, afectando já quase dois milhões de pessoas, de acordo com os dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento divulgados pelo INE.
Segundo o INE, 19,5% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2013 face aos 18,7% do ano anterior, apesar de ter existido um aumento dos apoios sociais às situações de doença e incapacidade, família ou desemprego.
As pensões de reforma e sobrevivência contribuíram para um decréscimo do risco de pobreza em 21,0 pontos percentuais, sendo que, segundo o INE, sem estas prestações e sem os apoios sociais 47,8% da população residente em Portugal estaria em risco de pobreza em 2013.
Discursando no almoço com os órgãos sociais da CNIS, o chefe do Executivo referiu que nessa altura “muitos dos beneficiários, muitos dos utentes, das famílias que suportavam uma parte dos apoios que eram canalizados para estas instituições viram-se numa situação de maior vulnerabilidade também”.
“Foi indispensável, portanto, recorrer a muita criatividade, a muito trabalho de ampla generosidade destas instituições e, também, a um reforço de meios que o Estado teve de colocar à sua disposição para que pudéssemos ter preservado a coesão social”, declarou Passos Coelho.
Admitindo que “durante esses anos” houve “um risco de pobreza maior” e “sectores sociais que ficaram mais pobres”, o primeiro-ministro realçou que o país conseguiu “passar por esse processo sem aumentar as clivagens, as assimetrias na forma como os rendimentos estão distribuídos”.
“Tivemos menos rendimentos todos, mas não tivemos mais dificuldades na forma como eles estavam distribuídos, tivemos até, em alguns aspectos, aqueles que tinham maiores rendimentos a dar um contributo maior do que aqueles que tinham menos”, assinalou Pedro Passos Coelho.
Para o chefe do Executivo, apesar de a “fase mais difícil” ter ficado ultrapassada, “ainda há riscos” que precisam de ser olhados “com muita atenção”.
“O facto de o pior ter passado não quer dizer que não haja pessoas que estejam hoje ainda muito carenciadas, famílias que passam por grande vulnerabilidade”, reconheceu Passos Coelho, apontando a “taxa de desemprego demasiado elevada” ou “pessoas que vivem em bolsas de pobreza que precisam da acção do Estado e da acção das instituições sociais”.