Tempo de Avançar põe renegociação da dívida na agenda
Movimento de convergência das esquerdas aprovou programa de orientação política e eleições primárias para a escolha de candidatos às legislativas
A plataforma irá associar-se ao partido Livre, do antigo eurodeputado bloquista Rui Tavares, para poder concorrer às próximas legislativas.Na sua intervenção, como membro do Tempo de Avançar, Rui Tavares deu conta do entrosamento entre as duas forças e da linha política. “Nós hoje já estamos a fazer o caminho que nos permitirá dizer quem quer combater a precaridade, desendividar as famílias, criar abertura na Europa para renegociar a dívida, e reconhecer a independência da Palestina logo no primeiro ano da legislatura”, afirmou o colunista do PÚBLICO, apelando à mobilização de “quem quer pôr a direita na oposição e deixá-la lá muito tempo”. Não é uma mobilização que serve apenas o propósito de participar mas com a governação no horizonte. “Governar só vale a pena se for para mudar o país”, afirmou, reforçando uma ideia que está no documento de orientação política intitulado “De todos para todos”, aprovado por maioria.
Apontando o 25 de Abril como a “manhã fundadora”, o ex-eurodeputado independente do BE falou da sociedade que deseja: “Queremos cidadãos sem medo do desemprego, de miséria, do patrão, do cônjuge, da autoridade ou do patrão”. O fundador do Partido Livre quis sublinhar o carácter democrático da construção desta plataforma de convergências à esquerda, aludindo a uma das frases ditas por Passos Coelho: “Disseram-nos que vivemos acima das nossas possibilidades. Pois não viram nada. Temos vivido abaixo das nossas possibilidades democráticas”.
Outra das vozes que defendeu a renegociação da dívida foi a de Ana Drago, ex-bloquista, membro do Fórum Manifesto, um dos movimentos que fazem parte do Tempo de Avançar. “A renegociação da dívida é inadiável. Queremos fazê-lo num quadro de um acordo multilateral da União Europeia”, defendeu. Ana Drago começou a sua intervenção por definir ao que vinha: “Algo de novo, radicalmente novo, começa nesta sala (…) estamos hoje aqui reunidos porque queremos mudar o país”. Mais à frente diria que face às políticas de “Passos Coelho, Paulo Portas e Cavaco Silva”, se impõe a “obrigação de criar um caminho para responder às perdas criadas nos últimos quatro anos de Governo”. Uma alternativa que Ana Drago quis fortalecer: “Não cedemos à ladainha de que na política as cartas já estão marcadas”.
A renegociação da dívida viria a ser novamente sublinhada por Daniel Oliveira, do Fórum Manifesto. “Se este movimento [Tempo de Avançar] participar no Governo poderá dizer que a Grécia não estará sozinha na Europa”, alertou. O antigo bloquista começou por se referir a uma notícia de uma agência noticiosa grega que comparou o Tempo de Avançar ao Syriza. “Estão enganados. Ainda não é”, corrigiu.
A estratégia do partido que lidera o novo governo grego acabou por ser elogiado por Viriato Soromenho-Marques, professor catedrático a quem coube encerrar a convenção. “Podemos concordar que algumas medidas anunciadas não correram bem mas estrategicamente é impossível não reconhecer a coragem de dizer que esta política não funcionou e que temos de mudar”, afirmou. Defendendo que esta crise é erradamente chamada de dívida soberana, Soromenho-Marques não acredita que a Grécia saia da União Europeia e se isso acontecer é porque foi empurrada. “Vai criar um processo perigoso e a União Europeia pode estar em causa. Teremos a Europa como um campo de concentração”, disse.
Já sobre a situação política portuguesa “gravíssima”, o filósofo disse ser difícil “não sentir náusea” com a falência do BES. “Há uma cumplicidade efectiva para além dos que elegemos e há uma elite de mérito que governou e governa transversalmente o país e os partidos”, disse, numa intervenção em que levantou, em aplausos, muitos dos 700 participantes que esgotaram o auditório do Fórum Lisboa, para a Convenção que terminou com a entoação da "Grândola, Vila Morena".
Durante a manhã, foi debatido e aprovada eleição do Conselho - órgão com 72 membros –, e o modelo das eleições primárias para a escolha dos futuros candidatos às legislativas (que estarão nas listas do Livre à Assembleia da República). O objectivo é que a mobilização desta plataforma permita existirem candidaturas em todos os círculos eleitorais, com listas paritárias. Cada candidato tem de obter o apoio de 12 subscritores e pode apoiar um mínimo de 50 pessoas.
No Tempo de Avançar estão ainda a Refundação Comunista, o Movimento de Intervenção e Cidadania do Porto e outras personalidades do Manifesto 3D e do Congresso Democrático das Alternativas.