Um Van Gogh nunca visto, entre mulheres e álcool
Retrato agora descoberto do pintor holandês, da autoria de Émile Bernard, vai ser mostrado na Alemanha depois de 45 anos num arquivo.
O desenho, descrito pelo jornal especializado Art Newspaper como sendo do tamanho de um postal e desenhado a caneta e tinta, foi descoberto entre centenas de outros esboços do artista e escritor francês que estavam acondicionados num livro de registos contabilísticos. E que se encontravam nos arquivos do Kunsthalle Bremen há mais de 45 anos.
Será mostrado ao público no Kunsthalle Bremen, no âmbito da exposição Émile Bernard: On the Pulse of Modernity – que esteve em Paris, no Musée de l'Orangerie, até ao passado dia 5 de Janeiro, mas que não continha o álbum com 858 desenhos, entre os quais a página que mostra Van Gogh, duas mulheres e duas garrafas em primeiro plano.
Embora a exposição em Bremen se inaugure já no próximo dia 7, só a 31 de Março será mostrada a página com o raro desenho, que será visível até 31 de Maio.
Dorothee Hansen, curadora no Kunsthalle Bremen e autora da identificação deste retrato, considera, segundo o Art Newspaper, que terá sido produzido no Inverno de 1886/7, alguns meses depois de os dois artistas se terem conhecido. “Há tão poucos retratos de Van Gogh deste período”, disse, citada pelo diário britânico The Independent, acrescentando que a colecção do museu recebe assim uma nova peça “maravilhosa”. Tudo indica, refere a perita, que tenha sido feito com alguma leveza, mostrando o artista entre “as ‘tentações’ de duas senhoras e duas garrafas”.
Até agora desconhecido, o trabalho encontrava-se num grande livro que foi vendido em 1970 pelo genro de Bernard, Clément Altarriba, ao museu alemão e que ali ficou até ser agora investigado. O tempo passado até identificar o teor do livro deveu-se ao facto de, como descreve Hansen, este ser “um caos” que coligia trabalhos de Bernard produzidos desde os seus 13 anos até aos que fez já quando era sexagenário. “Não havia cronologia, e havia diferentes técnicas e estilos”, acrescenta a curadora.
Émile Bernard (1868-1941) conheceu Van Gogh (1853-1890) quando o pintor holandês, por falta de dinheiro, se mudou de Antuérpia (Bélgica) para Paris, onde vivia o seu irmão Theo. Foi ali, em 1886, que conheceu Henri de Toulouse-Lautrec, Paul Gauguin e Bernard – os dois últimos tornar-se-iam fortes influências na abordagem de Van Gogh à cor. Dois anos em Paris, epicentro das vanguardas artísticas e literárias, tocaram o seu trabalho com cores e texturas que viriam e revelar-se nas obras mais conhecidas do pintor, produzidas depois de sair da capital para a Provença, para o sol de Arles e Saint-Rémy.
Terá sido no âmbito dessa amizade, que os levava a pintar juntos e que fez com que o holandês desse um dos seus auto-retratos a Bernard, que foi produzido o desenho agora descoberto e confirmado como sendo uma imagem de Vincent Van Gogh, provavelmente numa noite de boémia na capital francesa.
Além deste achado no álbum de Bernard, este continha mais retratos de artistas da época: um do neo-impressionista Paul Signac e algumas caricaturas de Toulouse-Lautrec a trabalhar, todos identificados por notas no próprio livro e que, por isso mesmo, tinham já sido detectados e removidos do álbum antes de este ser entregue ao museu alemão. De acordo com o Art Newspaper, encontram-se na posse de coleccionadores privados.