Três mortos nos piores confrontos entre Israel e o Hezbollah desde 2006
Movimento xiita libanês atacou coluna militar israelita, matando dois soldados. Capacete azul espanhol morreu nos disparos de retaliação do Exército hebraico.
Há dez dias que Israel esperava uma resposta do Hezbollah ao ataque aéreo que, a 18 de Janeiro, matou seis dos seus operacionais, dois deles destacados comandantes militares, além de um general iraniano dos Guardas da Revolução. O raide aconteceu junto à aldeia síria de Quneitra, no sector sírio dos montes Golã, e apesar de Israel não ter confirmado a sua autoria, tanto o Irão como o movimento xiita libanês, ambos aliados do regime de Bashar al-Assad, prometeram vingar os seus “mártires”.
Faltava pouco para o meio-dia, quando um míssil antitanque atingiu uma coluna militar que circulava no sector das quintas de Shebaa – zona ocupada por Israel e que fica na confluência dos territórios da Síria e do Líbano. Imagens difundidas pela imprensa israelita mostram dois veículos a arder e soldados a transportar camaradas feridos. Horas mais tarde, o Exército confirmou que dois militares morreram e outros sete foram hospitalizados, ao mesmo tempo que negava informações avançadas pela imprensa libanesa de que um soldado teria sido sequestrado.
Outros morteiros caíram em zonas próximas, atingindo uma base militar e uma aldeia, onde uma casa ficou totalmente destruída. O Exército encerrou os acessos à zona e ordenou aos residentes para permanecerem em casa. De visita a Pequim, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Avigdor Lieberman, afirmou que Israel deveria responder “de forma dura e desproporcionada” aos disparos, que um comunicado do Hezbollah atribuiu a um grupo intitulado “mártires de Quneitra”.
Nas horas seguintes, naquilo que um porta-voz militar assegurou “não ser necessariamente a última resposta” ao ataque, tanques israelitas dispararam mais de duas dezenas de morteiros contra território libanês, numa zona que é patrulhada pela FINUL, força que a ONU mantém no Sul do Líbano desde 1978 e que foi reforçada após a guerra de 2006. O cabo Francisco Toledo, um dos 586 capacetes azuis espanhóis da missão, foi atingido por um dos disparos e morreu antes da chegada de socorro médico ao local, adianta o jornal El País.
Madrid exigiu uma “investigação imediata e completa” ao sucedido, ainda antes de Lieberman telefonar ao seu homólogo espanhol, José Manuel García-Margallo, para lhe apresentar as condolências pela morte do militar, culpando o Hezbollah pelo sucedido. Uma linha que o embaixador junto da ONU repetiu numa carta enviada ao Conselho de Segurança, em que assegura que Israel “não ficará de braços cruzados” face aos ataques do movimento xiita.
Há meses que a tensão se acumula na região dos montes Golã, alimentada pela aproximação à região dos combates entre os rebeldes sírios e as forças leais a Assad. Por várias vezes, morteiros caíram na zona ocupada por Israel, que suspeita que o Irão e o Hezbollah estejam a usar o conflito para transferir armas e reforçar a presença militar junto às suas fronteiras.
Os analistas concordam que um conflito aberto não interessa nem a Israel – em vésperas das legislativas, marcadas para Março, uma guerra poderia custar a vitória ao primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu – nem ao Hezbollah, que tem boa parte das suas forças empenhadas no apoio a Assad. Mas no actual contexto regional, qualquer incidente pode desencadear uma escalada indesejada e nenhuma das partes dará parte de fraca. “Os responsáveis pelo ataque de hoje vão pagar o preço”, avisou Netanyahu à entrada para uma reunião de emergência do gabinete de segurança.