Coligação Syriza-Gregos Independentes: a realidade do poder

Depois de prometer tudo a todos, Alexis Tsipras vai enfrentar a realidade do poder, bem diferente da realidade da oposição. Vai ter de fazer escolhas

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Marko Djurica/Reuters

Alexis Tsipras e o Syriza são os novos salvadores. Cumpririam supostamente o sonho que se transformou em pesadelo para Hollande e que nunca passou de sonho com Renzi. Seriam eles a romper com a austeridade, a mudar o paradigma, a impor uma nova agenda política a toda a Europa, a bater o pé à Alemanha e a conseguir um enorme perdão de dívida e vários milhões de euros para investimento público na Grécia. Curiosamente (ou talvez não), até Marine Le Pen já veio regozijar-se com a vitória do Syriza.

Alexis Tsipras andou durante a campanha a escrever artigos no "Financial Times", a falar com investidores internacionais, a dizer que se pode confiar no Syriza. Ao mesmo tempo, manteve a retórica anti-austeritária e anti-programa de resgate que partilha com os Gregos Independentes. Ao mesmo tempo, disse que se comprometia com o euro e com as obrigações que deste decorrem para a Grécia em termos de défice e dívida. Ao mesmo tempo, disse que queria gastar milhões e milhões de euros em investimentos públicos.

Alexis Tsipras prometeu que se lhe perdoassem uma grande parte da dívida e os mesmos credores lhe voltassem a emprestar dinheiro com taxas mais simpáticas, sem as reformas estruturais do programa de resgate, investiria esse dinheiro de forma massiva. Com as suas promessas de comer o bolo e ao mesmo tempo ficar com ele, o Syriza ganhou as eleições na Grécia. Alexis Tsipras vai mesmo ser primeiro-ministro.

A ausência de maioria absoluta do Syriza ditou uma coligação. Com quem? Com os Gregos Independentes. Quem são os Gregos Independentes? Um grupo conservador, nacionalista e eurocético, fundado por dissidentes do Nova Democracia, partido do até agora primeiro-ministro Antonis Samaras. Sendo o próprio Syriza uma coligação de várias tendências, veremos como se conseguirá manter unido este Governo.

Por outro lado, o Norte da Europa não passou subitamente a querer renegociar a dívida com a Grécia, sabendo bem as consequências que isso teria, por exemplo, para a França ou para a Espanha. A Grécia não pode beneficiar de imediato do programa de "quantitative easing" do BCE, tendo para o efeito, por exemplo, de completar o processo de aferição do programa de ajustamento com a “troika”. E as políticas que o Syriza propõe para diversas áreas, apesar das boas intenções, diminuiriam a competitividade da Grécia, tendendo ainda a fazer aumentar o flagelo do desemprego.

Depois de prometer tudo a todos, Alexis Tsipras vai enfrentar a realidade do poder, bem diferente da realidade da oposição. Vai ter de fazer escolhas. Vai ter de fazer compromissos e encontrar equilíbrios, provavelmente bem complicados. E as políticas que implementar vão ter consequências reais na vida das pessoas. A insatisfação que o levou ao poder pode virar-se contra ele, como se virou já contra François Hollande. E além da Nova Democracia, os neo-nazis do Aurora Dourada estão já aí à espreita, preparados para subirem ainda mais em futuras eleições.

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