Autarca co-arguido em caso de falsificação de visto do Tribunal de Contas
A obra do Centro Educativo de Monsul,em Póvoa do Lanhoso, avançou com uma declaração falsificada do TdC.
Além do processo criminal, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN) também já pediu à Câmara a restituição dos 1,8 milhões que recebeu dos fundos comunitários para comparticipação naquela obra.
O assunto foi levado nesta segunda-feira à reunião de câmara pelos vereadores do PS, que questionaram a actuação do executivo em todo o processo, mas o presidente do executivo, Manuel Baptista, do PSD, manifestou-se "de consciência tranquila", remetendo toda a responsabilidade para a antiga chefe da Divisão Jurídica e Administrativa.
Em causa está o Centro Educativo de Monsul, que ficou pronto em 2010 e que custou cerca de dois milhões de euros.
Em Julho de 2013, durante "uma visita técnica" ao município do Programa Operacional Regional do Norte, descobriu-se a obra não tinha visto do TdC, uma vez que o que constava no processo era falso.
O TdC participou o caso à Polícia Judiciária, tendo entretanto o presidente da Câmara e a chefe da Divisão Jurídica e Administrativa sido constituídos arguidos, uma situação confirmada pelo próprio autarca.
Segundo Manuel Baptista, a técnica terá alegado que falsificou "pressionada" pelo autarca.
Uma alegação desmentida por Baptista, que disse que apenas perguntou à técnica o que se passava com o processo do visto e manifestou mesmo intenção de ir com ela ao TdC tratar do assunto.
"Respondeu-me: não precisa, tenho lá uma pessoa amiga, vamos tratar disso", disse ainda o autarca.
Os vereadores do PS dizem ter "sérias dúvidas" sobre a versão do presidente da Câmara, considerando desde logo ser "muito grave" a "falta de atenção" do executivo em relação a esta matéria.
"O resultado é que temos uma empreitada de dois milhões de euros que não foi visada e que isto pode acabar em pesadelo para Póvoa de Lanhoso", referiu o vereador socialista Frederico Castro.
O PS mostra disponível para colaborar no apuramento de toda a verdade, admitindo mesmo constituir-se assistente no processo judicial.
A obra do Centro Educativo de Monsul avançou com uma declaração falsificada do TdC, ficou concluída e só em 2013 é que seria detectado que, afinal, não tinha o obrigatório visto prévio.
Em meados de 2014, a CCDRN exigiu à câmara a restituição de 1,8 milhões de euros, mais juros, mas o município recorreu para os tribunais administrativos, estando agora a aguardar o desfecho do recurso.
Para fundamentar o recurso, pediu um parecer a um jurista, pelo qual pagou 20 mil euros.
"Tudo farei para não devolver o dinheiro, o dinheiro está caro e faz falta ao município. Quero justiça rápida, que apure a verdade e ponha tudo cá fora", afirmou Manuel Baptista.
Quando foi detectado que o visto do TdC era falso, a técnica em questão já tinha sido despedida, na sequência de um processo disciplinar por falsificação de facturas e desvio de dinheiro.
"Foi uma fase em que ela andava desequilibrada", disse ainda Manuel Baptista.