Proença tem de se explicar
José Sócrates processou 14 jornalistas (repito: 14) do Correio da Manhã, tendo como advogado o mesmo Proença de Carvalho que actualmente manda no DN, no JN e na TSF.
Se eu ainda sei ler português, o resultado de Afonso Camões afirmar que soube em Maio da investigação, de não desmentir que avisou Sócrates, e de denunciar que foi alvo de escutas, só pode ser este: Afonso Camões está a admitir que alertou José Sócrates e a supor que isso ficou registado na investigação. E esta admissão, quer ele queira, quer não, é muito mais relevante do que as suas queixas (justas, sem dúvida) a propósito de uma nova violação do segredo de justiça. Mais: esta admissão, quer ele queira, quer não, acaba por credibilizar a história que o seu odiado Correio da Manhã publicou na sexta-feira e no sábado, e que o jornal i entretanto já garantiu ter confirmado junto das suas próprias fontes. Uma história tão grave que convinha não ser alegremente ignorada pelo resto da comunicação social, como foi durante tanto tempo ignorada a história de Paris e da Octapharma. Uma história que, mais uma vez, tem Daniel Proença de Carvalho como protagonista.
Porque o problema vai muito além de Afonso Camões, que no citado editorial afirmou ter “mais de 40 anos” de amizade com José Sócrates. Eu diria que tão longa amizade o deveria ter desaconselhado de aceitar, em Março de 2009, o cargo de presidente do Conselho de Administração da Agência Lusa – mas isso se calhar sou eu que sou muito puritano. Só que entre o meu excesso de puritanismo e a absoluta mixórdia de interesses há-de existir um ponto de equilíbrio. E é nesse exacto ponto que Proença de Carvalho começa a perder o pé, e que começa a dever-nos uma boa explicação.
O Correio da Manhã afirma que Sócrates incentivou – havendo escutas que o confirmam – Proença de Carvalho a negociar a compra da Controlinveste, da qual o advogado acabaria por se tornar presidente do conselho de administração. Além disso, via Proença, Sócrates teria tido algum papel na escolha de Afonso Camões para dirigir o JN e na tentativa de pressionar a ERC, via Carlos Magno, para deliberar contra o Correio da Manhã devido às notícias de Paris e da Octapharma, como efectivamente veio a acontecer em Fevereiro de 2014.
Proença declarou ao i que, “por dever deontológico”, não pode falar das “entidades” que patrocina ou patrocinou “enquanto advogado”. Só que o problema já não está nos patrocinados, mas no patrocinador. Na sequência das referidas notícias, José Sócrates processou 14 jornalistas (repito: 14) do Correio da Manhã, tendo como advogado o mesmo Proença de Carvalho que actualmente manda no DN, no JN e na TSF. O mesmo Proença de Carvalho que desta vez não aceitou representar Sócrates, apesar de ter sido para o seu escritório que o motorista ligou ao ser preso. O mundo de Sócrates está a desmoronar-se – e é demasiado tarde para Proença simplesmente virar costas enquanto assobia para o lado.