Renamo descontente com Governo "unicamente da Frelimo"
Partido da oposição reúne-se para definir estratégia. Equipa do Presidente Filipe Nyusi reflecte “cuidadoso equilíbrio entre grupos de interesses” no interior do partido governamental.
A principal força da oposição, antiga guerrilha, considera fraudulentas as eleições em que Nyusi foi eleito e a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder) obteve a maioria absoluta da Assembleia da República. E reclama a formação de um governo de gestão. Já ameaçou criar uma “república do centro e do Norte” e os seus deputados e membros de assembleias provinciais faltaram às tomadas de posse.
Filipe Nyusi assinou também nesta segunda-feira, segundo a agência AIM, os despachos de nomeação dos governadores provinciais. Quando anunciou a intenção de criar uma “república”, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, declarou que nomearia governadores e administradores de seis províncias: Sofala, Tete, Zambézia, Manica, Niassa e Nampula.
O novo Governo, formado por 22 ministros e 19 vice-ministros, combina, na opinião de Joseph Hanlon, editor do Mozambique Political Process Bulletin, “experiência e competência” com um “cuidadoso equilíbrio entre grupos de interesses” no interior da Frelimo.
O primeiro-ministro é Carlos Agostinho do Rosário, até aqui embaixador na Indonésia e em Timor-Leste, que foi ministro da Agricultura com o Presidente Joaquim Chissano, na década de 1990. Durante as presidências de Guebuza esteve em cargos de representação externa.
O jornalista e académico, que há mais de três décadas acompanha a evolução política de Moçambique, escreveu no boletim que a “nomeação-chave” é a de Pedro Couto para os Recursos Minerais e Energia. Anterior vice-ministro das Finanças, é considerado íntegro e capaz de pensar pela sua cabeça. “Será rigoroso tanto com a elite da Frelimo como com as companhias de gás e de petróleo”, prevê Hanlon. Couto foi algumas vezes considerado mais próximo de Chissano do que de Armando Guebuza, Presidente até à passada quinta-feira. Para outra das pastas mais importantes, Economia e Finanças, foi nomeado Adriano Maleiane, antigo governador do Banco de Moçambique.
No executivo permanecem seis ministros de Guebuza. E para o integrarem pela primeira vez foram escolhidos “dois aliados” seus, observa Hanlon: Carlos Mesquita, administrador delegado da Cornelder, sociedade gestora do porto da Beira, de que o ex-Presidente é accionista, que fica na pasta dos Transportes e Comunicações; e Celso Correia, até há pouco presidente da administração do banco BCI e fundador da Insitec, um dos maiores grupos empresariais moçambicanos, que foi para o Ministério da Terra e Desenvolvimento Rural. No BCI, os bancos portugueses CGD e o BPI estão aliados à SCI, do grupo Insitec (dono de 18%). Criado em 2001, o grupo actua em vários sectores (é accionista da Cimpor de Moçambique).
Dois importantes ministros mantêm os cargos que desempenhavam no anterior Governo: Oldemiro Balói, nos Negócios Estrangeiros, e José Pacheco, na Agricultura e Segurança Alimentar. Pacheco é membro da comissão política da Frelimo, e a sua permanência no cargo é considerada pelo analista um sinal da preocupação de Nyusi em “equilibrar os grupos de interesse” partidários. O editor do Mozambique Bulletin observa ainda que em certas pastas, como a Educação, com Luís Jorge Ferrão, reitor da Universidade Lúrio, prevaleceram escolhas técnicas e experiência na área.
A escolha de Nyusi para candidato presidencial, há cerca de um ano, foi vista como um triunfo da "ala Guebuza" no partido, pelo que a composição do seu Governo era considerada um primeiro sinal para se perceber a sua autonomia e o rumo que pretende dar à sua presidência. Na tomada de posse, o novo chefe de Estado prometeu “diálogo construtivo com todas as forças políticas e as organizações da sociedade civil para promover a paz”. “O povo é o meu patrão. O meu compromisso é servir o povo moçambicano como meu único e exclusivo patrão”, disse também.