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Operações policiais em três países fazem dezenas de detidos e cinco acusados de terrorismo

Polícia francesa interrogou 12 suspeitos de terem apoiado ataques terroristas em Paris. Berlim deteve dois membros de célula jihadista. Na Bélgica, cinco pessoas foram acusadas de terrorismo.

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Autoridades francesas continuam a procurar pistas sobre os ataques da semana passada Philippe Huguen / AFP

A polícia francesa interrogou e deteve durante a última noite 12 pessoas da região parisiense sobre um “possível apoio logístico” aos autores dos atentados da semana passada, nomeadamente através do fornecimento de armas e carros, de acordo com fontes judiciárias citadas pela AFP. Trata-se de uma "rede de apoio logístico muito activa", composta por oito homens e quatro mulheres, descreveu ao Le Figaro uma fonte policial.

Nos últimos dias têm sido investigadas várias pessoas do círculo próximo de Amedy Coulibaly, responsável pela morte de uma polícia e do ataque à mercearia judaica que provocou quatro mortos. A ligação a Coulibaly — que afirma ter actuado em conjunto com os irmãos Kouachi — foi detectada pela polícia através de escutas telefónicas e da análise de elementos de ADN, diz o Le Monde.

Esta manhã, a Gare do Norte foi evacuada por causa de uma ameaça de bomba, mas menos de meia hora depois o tráfego ferroviário retomou a normalidade, segundo Le Parisien.

A investigação aos atentados que mataram 17 pessoas em Paris estenderam-se a Espanha, depois de ser conhecida a passagem de Coulibaly por Madrid alguns dias antes. No último dia de 2014, Coulibaly viajou para o país vizinho e terá ficado em casa de um "amigo", de acordo com fontes policiais citadas pelo El Mundo. Estava acompanhado da namorada, Hayat Boumeddiene, e de outro casal que seguiram para Istambul no dia 2 de Janeiro, a partir do aeroporto de Barajas, como comprovam imagens das câmaras de segurança reveladas nos últimos dias. Dias depois, Boumeddiene entrou na Síria, através da fronteira turca.

Buscas em Berlim
Em Berlim foram feitas buscas em 11 locais relacionados com o “movimento islamita”, de acordo com a polícia. Durante a noite foram detidas duas pessoas de nacionalidade turca, embora não tenham sido encontrados indícios de que estivessem a preparar “atentados na Alemanha”.

Ambos pertenciam a um grupo de cinco pessoas que foi localizado na capital alemã, cujos membros são “extremistas islamitas, incluindo cidadãos turcos ou russos de origem chechena ou daguestanesa” e se preparavam para executar um “acto violento grave na Síria”.

Um dos detidos, identificado pela polícia como Ismet D. e com 41 anos, é suspeito de liderar o organismo e de preparar e apoiar financeira e materialmente os candidatos a jihadistas. Emin F., de 43 anos, seria o responsável pelas finanças do grupo. Os restantes três membros não foram detidos por falta de provas, segundo o Ministério Público de Berlim.

Acusação na Bélgica
Na quinta-feira, a polícia belga abateu dois suspeitos de pertencerem a uma célula terrorista que preparava um “atentado de grande envergadura”. Apesar do sucesso da operação, o dispositivo de alerta de segurança foi elevado para o segundo nível mais alto.

Foram detidas 13 pessoas na sequência da acção policial que faziam parte de um grupo que tinha como objectivo "matar polícias". As autoridades enviaram um pedido de extradição de dois cidadãos belgas detidos em França. As buscas realizadas durante a noite na região de Bruxelas revelou armas, munições, grandes quantidades de dinheiro e uniformes da polícia, revelou o porta-voz da procuradoria, Thierry Werts.

"O grupo estava prestes a cometer atentados terroristas, sobretudo matando polícias na via pública e nas esquadras", explicou o responsável.

A imprensa belga tem noticiado esta manhã o fecho de várias escolas judaicas no país, devido aos receios de que possam vir a ser potenciais alvos de atentados terroristas. Em Maio, um ataque ao Museu Judaico de Bruxelas executado por um jovem que tinha estado na Síria fez três mortos.

As autoridades revelaram que os dois suspeitos mortos na quinta-feira regressaram recentemente da Síria com o intuito de organizar um ataque em solo belga, mas afastou qualquer ligação aos atentados de Paris. A procuradoria confirmou que a investigação foi iniciada ainda antes do ataque ao semanário satírico Charlie Hebdo.

Já nesta sexta-feira cinco pessoas foram acusadas por “participação em actividades de um grupo terrorista” e três delas ficam em prisão preventiva, indicou à AFP a procuradoria federal belga.

Um dos detidos em prisão preventiva é o sobrevivente da operação antiterrorista em Verviers, onde a polícia matou dois homens suspeitos de estarem a preparar um ataque, revelou Eric Van der Sijpt, porta-voz da procuradoria. Os outros dois presos preventivos foram detidos nesta sexta-feira. 

Tal como a França e a Alemanha, a Bélgica é um dos países europeus de onde têm saído mais pessoas para integrarem o grupo terrorista Estado Islâmico, que controla vastos territórios na Síria e no Iraque. O Governo estima que estejam actualmente 170 cidadãos belgas na Síria.

Kerry desculpa-se
Enquanto as autoridades policiais se concentram na neutralização dos movimentos jihadistas na Europa, em Paris continuam as homenagens e os gestos simbólicos no rescaldo dos ataques da semana passada. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, deslocou-se à mercearia judaica onde há uma semana morreram quatro pessoas para deixar uma coroa de flores. Também presente, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, revelou aos jornalistas que o responsável norte-americano pediu desculpas pela ausência do Governo de Washington na marcha de domingo.

Mais de 50 líderes mundiais estiveram presentes na manifestação contra o terrorismo que juntou mais de um milhão de pessoas em Paris, no último domingo. A representar os EUA esteve apenas a embaixadora em França e a ausência de um dirigente mais relevante despertou críticas de vários sectores. Esta semana, a Casa Branca reconheceu ter sido “um erro” não ter sido enviado um representante da Administração Obama.

Antes, Kerry garantiu ao Presidente francês, François Hollande, que os EUA partilham “a dor e o horror” dos franceses e deixou elogios à forma como as operações foram conduzidas e à unidade do povo francês — uma “grande lição para o mundo”. “Observámos-vos, a vocês e à vossa equipa, a dirigir com muita elegância e talento” as operações, mas também “o povo francês que se juntou com um grande sentido de unidade”, disse, citado pela AFP.

Hollande lembrou o atentado às Torres Gémeas, em Nova Iorque, a 11 de Setembro de 2001, sofrido pelos EUA para apelar à procura em conjunto das “respostas necessárias” ao terrorismo. “É esse o sentido do nosso encontro de hoje”, referiu.

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