Rui Moreira chama "artista português" ao secretário de Estado do Turismo
Autarca critica no Facebook a posição do governante sobre as razões do crescimento do turismo no Porto e Norte.
Confrontado, no programa de informação da RTP 2, com a ausência do país na Expo de Milão, dedicada ao turismo, Mesquita Nunes explicou que os seus serviços estão a “direccionar os apoios para aquilo que efectivamente tem possibilidade de atrair turistas” e que passa por “desinvestir nos eventos e passar a apostar na captação de bases aéreas”, além de “trazer jornalistas estrangeiros a Portugal”. O governante disse ainda que o crescimento do turismo no Porto e Norte está directamente ligado a esta estratégia, defendendo: “O [turismo] do Porto e Norte estava a estagnar e, de repente, disparou a partir do ano de 2013, depois de termos iniciado esta nossa estratégia”.
A primeira reacção de Rui Moreira, na sua página oficial, começa com uma gargalhada e a frase: “Acabámos de saber (estupefactos) por um Secretário de Estado, que o crescimento do turismo no Porto não se deve nem à política de promoção que a cidade tem feito nem ao extraordinário trabalho que os portuenses (empresários e cidadãos) têm feito.” O post, ilustrado com fotografias do autarca nas páginas de jornais e revistas internacionais, termina com a afirmação: “Basta olhar para a capa do New York Times, para as centrais da Monocle, para a última página do Libération, para a página 4 do El País para se perceber a presença deste enorme Secretário de Estado e o competente trabalho que o seu Governo tem feito na promoção do Porto. Estão a vê-lo? Reconhecem-no? Chama-se Adolfo Mesquita Nunes... :). Palavras para quê, é um artista português.”
Rui Moreira também reagiu na página pessoal do Facebook, onde aparece numa foto tirada na Ribeira, na altura em que lançou a campanha para que a cidade viesse a ser escolhida como Melhor Destino Europeu – o que viria a acontecer -, e escreveu. “Este não sou eu. É o Secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes. Grande responsável pelo crescimento do turismo no Porto e Norte. Através de uma estratégia fantástica, não permitindo a promoção através de eventos. (…) Com governantes assim, não precisamos de autarcas, de empresários, de pessoas empenhadas. A eles devemos tudo o que é bom. Obrigado, senhor secretário, pela lição, pela generosidade. Obrigado, capital, por domesticar e ensinar a província.”
Nas declarações à RTP, o secretário de Estado saudou o “sector privado”, dizendo que sem ele, os bons resultados do turismo no Norte “eram impossíveis”. Entre Janeiro e Outubro de 2014 registaram-se 2,6 milhões de dormidas de estrangeiros na região, o que ultrapassara claramente a meta estabelecida pela Associação de Turismo do Porto (ATP). Segundo os dados a que o PÚBLICO teve acesso, o número total (de nacionais e estrangeiras) de dormidas na região foi em 2005 foi de 3,4 milhões. O número rondou os 4,5 milhões em 2011 e 2012, subiu para 4,8 em 2013 e, até Outubro do ano passado, já superara os 4,7 milhões.
Sem querer alimentar a polémica, a directora executiva da Associação de Turismo do Porto, Helena Gonçalves, diz que os turistas que têm procurado a região não o fazem por causa de um único motivo ou entidade. “Este crescimento tem que ser atribuído a uma estratégia concertada que está a ser realizada por diferentes organismos, desde o trabalho da secretaria de Estado, ao Turismo de Portugal, à Câmara do Porto, à Associação de Turismo do Porto, ao aeroporto, à parte privada, associações e cruzeiros”, diz. De igual modo, Helena Gonçalves garante que o esforço da ATP, que é presidida por Rui Moreira, não descarta qualquer factor que possa atrair turistas à cidade e à região. Por isso, a aposta na divulgação passa pela presença na imprensa internacional e a atracção de novas rotas aéreas, mas também na divulgação de eventos como o NOS Primavera Sound ou o S. João “que já está a ter relevância internacional”.
Também Melchior Moreira, do Turismo do Porto e Norte de Portugal acredita que o sucesso da região “é fruto não de uma, mas de várias entidades públicas e privadas”, citando as já referidas por Helena Gonçalves, e colocando a tónica no “esforço acrescido que muitos empresários têm vindo a realizar para se distinguirem no seio de uma enorme competitividade internacional”. Assim, refere Melchior Moreira numa resposta escrita enviada ao PÚBLICO, “contrariando a posição do Secretário de Estado do Turismo, o sucesso do Porto e Norte deve-se a um diversificado conjunto de circunstâncias” e não a uma única entidade ou estratégia.