Que fazer desta revolução?

Belle & Sebastian: a festa plástica na pista de dança está longe de lhes assentar bem

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Ao nono álbum, os Belle & Sebastian estão diferentes. É o que todos dirão, mesmo não tendo como prova mais que The party line, o primeiro single de Girls In Peacetime Want To Dance. A mudança, no caso específico desta canção, é refrescante. Cowbell a marcar o ritmo do pré-refrão, sintetizadores a dançarem enrodilhados no baixo, batida funk na tangente do disco e muito hedonismo, muito elegante: “Jump to the beat of the party line”, exorta o refrão e é precisamente isso que temos vontade de fazer.

Mas The party line é apenas uma das doze canções do novo álbum, o que sucede a Write About Love, editado em 2010. E é, neste álbum produzido nos EUA por Ben H. Allen III (Gnarls Barkley, Animal Collective), o primeiro e decisivo sinal da apregoada mudança na banda que inventou para si uma sensibilidade pop feita de uma superfície delicada e de dor e crise existencial abaixo dela.

Nobody’s empire

, a canção que abre o álbum, tem a trompete que é imagem de marca, coro gospel para frémito épico e uma guitarra elegante a abrir caminho para frases como 

“If we live by the books and we live by hope / does it makes us targets for gunfire?”

 – é sempre um prazer reencontrar a pena de Stuart Murdoch. 

Allie

, a segunda canção, grande canção, soa a canção combate à Belle & Sebastian: dançamos o ritmo garageiro sem fúria, mas com a flauta, soprada com intenção, a colorir a melodia. A guitarra há-de espingardar e é impossível não bater o pé ao ritmo da peça. Mas, nesse momento, o que fazemos com todo este conforto? 

“When there’s boms in the Middle East / you wanna hurt yourself”

, ouvimos no início; ouviremos mais tarde: 

“You made a list of all your heroes / and you thought about all they went through / It’s much harder, much darker then what you went through”

.

Quando desembocamos em The party line, somos tudo entusiasmo: são os Belle & Sebastian, os da agudeza da lírica e do ouvido para a melodia, e são também algo de diferente. Porém a diferença, esta diferença, não manterá o seu encantamento. Atravessamos a dolência de The power of three”, cantada por Sarah Martin (secção de cordas dinâmica em convívio com sintetizador de viajante espacial), avançamos pela belíssima pop de câmara de The cat with the cream e aterramos depois emEnter Sylvia Plath. Não é surpreendente ver os Belle & Sebastian escreveram sobre a poeta americana. Surpreendente é o que fizeram com ela: quase sete minutos de um synth pop desenterrado de pesadelos dos anos 1980 enquanto caricatura mal-amanhada de Pet Shop Boys ou dos ABBA. Desconcertante – e não de uma boa maneira: a surpresa é só desilusão e desconforto perante a brincadeira (só pode ser isso, não é?). Não, não é. Ouviremos yatch rock barato, com congas e ritmo disco, em Perfect couples – o paradoxo entre o tom bem-disposto e os versos cantados (“What have we done? / those perfect couples / keep breaking up”) é uma boa e velha ideia dos Belle & Sebastian, a sua concretização, aqui, nem por isso. Ouviremos sete minutos de mais synth-pop, o de Play for today, este em versão tropical (ou chungaria 80s), onde se canta sobre a miúda de sorriso fácil que esconde consigo uma terrível verdade (não, a vida não lhe sorri).

No fim, damos por nós a pensar, medido o início irrepreensível do disco, recordando como a despedida com Today (This army’s for piece), balada enublada por sons atmosféricos, é uma canção da qual não queremos sair, reconhecendo que continuamos a ser surpreendidos pelo universo lírico de Stuart Murdoch (que não mudou), pesado tudo isso, dizíamos, concluímos que neste Girls In Peacetime Want To Dance a suave revolução entusiasma e é bem-vinda, mas que a festa plástica na pista de dança (a revolução histriónica, digamos) está longe de lhes assentar bem. E é uma pena.

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