Vinte e seis municípios começam a preparar-se para um futuro mais quente

O projecto ClimAdaPT.Local prevê a elaboração de estratégias locais de adaptação às alterações climaticas em 26 concelhos.

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Os turistas escolhem Portugal por causa do clima e do preço Vasco Célio

É o primeiro passo para a elaboração de estratégias locais de adaptação às alterações climaticas em 26 concelhos do país – objectivo central do projecto ClimAdaPT.Local, apresentado esta quinta-feira, que envolve vários parceiros e é financiado com dinheiro sobretudo da Noruega.

Por mais que a humanidade se esforce em reduzir as emissões de gases que estão a aquecer o planeta, preparar-se para a um mundo mais quente é uma necessidade certa. O último relatório do painel científico da ONU para o clima – o IPCC – sugere que, mesmo que a subida do termómetro global até ao final do século fique nos 2o C, haverá alterações significativas na vida do planeta, como a subida do nível do mar, o aumento da frequência de ondas de calor, modificações na produtividade agrícola e o risco de extinção de determinadas espécies.

Mas se já é difícil chegar a acordo sobre decisões no curto prazo, muito mais é pensar no que fazer daqui a décadas. “Portugal está bem atrasado em relação a outros países”, afirma Rita Antunes, da associação ambientalista Quercus, que participa do projecto ClimAdatPT.Local na área da comunicação.

Por cá, apenas Sintra, Cascais e Almada têm estratégias climáticas. As duas primeiras foram elaboradas pela mesma equipa de investigadores do projecto SIAM, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que realizou um trabalho pioneiro sobre os impactos das alterações climáticas em Portugal em 2001 e desde então tem liderado vários projectos na área. Segundo Filipe Duarte Santos, dinamizador do SIAM e coordenador do projecto ClimAdaPT, a estratégia de Sintra não teve seguimento, mas a de Cascais está a ser posta em prática.

O projecto agora lançado, recorre a uma metodologia já usada no Reino Unido, que parte de um diagnóstico das vulnerabilidades climáticas de cada município, com a ajuda das próprias autarquias.

Sobre este quadro inicial e com base nos cenários climáticos regionais do IPCC, projectam-se os impactos no futuro e, depois, estudam-se as medidas de adaptação.

“A principal tem a ver com o conhecimento”, diz Filipe Duarte Santos. “O que é importante é que as autarquias fiquem conscientes de que temos um clima em mudança e que isto vai afectar o município”, explica.

Por isso, uma parte do projecto assenta sobre a formação de dois técnicos em cada uma das 26 câmaras municipais, que começa já esta quinta-feira.

A iniciativa envolve quatro universidades – Lisboa, Nova de Lisboa, Aveiro e Açores – duas empresas privadas e uma organização não-governamental. Serão investidos 1,5 milhões de euros, provenientes do programa AdaPT, da Agência Portuguesa do Ambiente, que gere verbas de um fundo alimentado sobretudo pela Noruega, mas também pelo Lichtenstein e Islândia, no âmbito de um acordo para que estes três países beneficiem do regime de livre circulação de bens e pessoas da União Europeia.

Se tudo correr bem, dentro de um ano e meio os concelhos de Amarante, Barreiro, Braga, Bragança, Castelo de Vide, Castelo Branco, Coruche, Évora, Ferreira do Alentejo, Figueira da Foz, Funchal, Guimarães, Ílhavo, Leiria, Lisboa, Loulé, Montalegre, Odemira, Porto, Seia, São João da Pesqueira, Tomar, Tondela, Torres Vedras, Viana do Castelo e Vila Franca do Campo estarão, teoricamente, mais bem preparados para enfrentar um mundo mais quente.

As medidas de uma estratégia de adaptação podem tocar em praticamente todas as áreas da vida de um município: da revistão dos planos de ordenamento à preparação dos hospitais para ondas de calor; de obras para travar a erosão costeira a medidas de eficiência energética, para lidar com o maior consumo dos sistemas de climatização.

Até as finanças devem ser tidas em conta. Um manual distribuído esta quinta-feira às autarquias cita o caso de um município britânico que, depois de fazer o seu diagnóstico de vulnerabilidades, concluiu que tinha gasto 21 milhões de euros em dez anos para enfrentar os danos de tempestades e inundações. E nada disto estava previsto nos seus orçamentos.

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