Zuckerberg: “o arco da história rumo à liberdade” não será travado

O presidente executivo do Facebook aproveitou a marcha em Paris para chamar a atenção para a situação na Nigéria. E fez com que dois utilizadores doassem dinheiro para caridade.

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“Temos de acabar com as atrocidades do Boko Haram”, defende Zuckerberg Robert Galbraith/Reuters

“Não podem matar uma ideia”, começou por escrever Zuckerberg, ao final da tarde de domingo (hora de São Francisco, início da madrugada de segunda-feira em Lisboa). “É inspirador ver os vídeos de mais de dois milhões de pessoas de todas as religiões, idades, etnias e origens a juntar-se para marcharem unidas.”

O co-fundador do Facebook referia-se às manifestações que, em Paris e por toda a França, desafiaram o medo imposto ao país pelos ataques terroristas da passada semana, com destaque para as execuções no jornal satírico Charlie Hebdo, que se saldaram em 20 vítimas mortais. Um medo que o terrorismo não conseguirá impor, considera Zuckerberg, desde que o mundo esteja ligado – isto é, ligado à Internet.

“Se estivermos ligados, nenhum ataque de extremistas – na Nigéria, no Paquistão, no Médio Oriente ou em França – pode obstruir o caminho do arco da história rumo à liberdade e à aceitação para todos”, conclui. É uma declaração com ressonância no projecto Internet.org, no qual o Facebook está a trabalhar com a NASA para dar acesso à web aos dois terços da população mundial que ainda não o têm.

Corrigir a liberdade
Esta é a segunda mensagem publicada por Mark Zuckerberg na sequência dos ataques terroristas na capital francesa. Na primeira, decretava o Facebook como um espaço iminentemente livre: “Batemo-nos por isto porque as vozes diversas – mesmo que por vezes sejam ofensivas – podem fazer do mundo um sítio melhor e mais interessante.”

Na altura, a contradição dessa declaração com algumas práticas da rede social foi sublinhada por inúmeros utilizadores, o que voltou a acontecer agora. Angelic Munni perguntou, em particular, por que tinha sido “apagado” um post do actor e realizador paquistanês Hamza Ali Abbasi, que condenando o assassinato dos cartoonistas do Charlie Hebdo – “No Islão, só ‘instituições’ podem matar em nome da justiça, e não por vingança ou ódio” – defendia que o “Ocidente” deve “repensar e corrigir a sua definição de ‘liberdade de expressão’”.

“Acho que isto não deveria ter sido bloqueado. A nossa equipa pode ter cometido um erro”, contrapôs Zuckerberg, pedindo no próprio comentário ao vice-presidente do Facebook Justin Osofsky para rever a publicação em causa. Ali Abbasi agradeceu, mas disse duvidar de que se tenha tratado de facto de um erro. E reiterou que “nada permite que ninguém faça justiça pelas próprias mãos”, e que “os pseudoliberais devem compreender que que a ‘liberdade de expressão’ não é uma ‘ética universal’, o respeito é que é uma ética universal”.

Num outro comentário que mereceu resposta do empresário de 30 anos, um norte-americano do Tennessee, Dwayne Mathes, escreve: “O Boko Harem tem de ser parado por todos os meios necessários! E você tem influência suficiente para fazer algum barulho sobre isso. (…) 17 [mortos] em França em deplorável, mas 2000 [mortos na Nigéria] – mulheres e crianças incluídas – é descomunal.” “O Boko Haram é terrível e temos de acabar com as suas atrocidades”, concordou Zuckerberg, que no post que deu origem ao comentário já tinha feito referência directa à situação nigeriana.

Por fim, um momento caricato. Charles Ellingson apostou e perdeu dez dólares (8,5 euros) com Zuckerberg. O utilizador fez um comentário a concordar com o post, aproveitando para desafiar o presidente executivo da maior rede social do planeta: “[aposto] dez dólares como não respondes ao meu comentário”. A réplica de Zuckerberg não se fez esperar: “Pode doar por mim esses dez dólares a uma instituição de caridade.” “Obrigado, Mark, vou fazê-lo”, respondeu Ellingson.

Nas respostas ao mesmo comentário, um outro utilizador, Cipry Ioan, tentou a mesma brincadeira: “Eu aposto 100 libras [128,3 euros], o Mark não me vai responder a mim.” Com o mesmo resultado: “Cipry, podes doar essas 100 libras à caridade também”, escreveu Zuckerberg.

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