Portugueses vão reabilitar aldeias do Butão, tornando-as resistentes a sismos

Engenheiros e arquitectos vão estudar as construções tradicionais do pequeno país nos Himalaias para que estas sejam mais resistentes aos sismos

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Fernando Veludo/nFactos
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Do Butão, não nos chegam muitas notícias. O que faz com que este reino perdido nos Himalaias seja um país quase desconhecido. Se há uns anos atrás, ficamos a saber que o Butão foi eleito um dos países mais felizes do mundo, hoje voltamos a falar dele mas por outros motivos: uma equipa portuguesa venceu um concurso internacional e vai reabilitar duas aldeias histórias butanesas.

Por esta altura, Joana Vasconcelos e Tiago Ilharco já têm as malas prontas e preparam-se para embarcar, literalmente, nesta nova experiência profissional. A arquitecta e o engenheiro vão passar um mês no país a fazer um estudo detalhado de duas aldeias em Punakha, um dos 20 distritos do Butão.

Como é que surgiu esta oportunidade? “Por sermos uma empresa que trabalha com reabilitação de edifícios, com uma forte componente de engenharia sísmica, costumamos estar atentos a certos concursos”, começa por explicar Tiago Ilharco, um dos engenheiros da NCREP. Concorreram a um concurso do Banco Mundial, financiado pelo governo do Japão, que tem como objectivo fazer uma “análise da vulnerabilidade ao risco sísmico no Butão”, refere Tiago.

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Como o projecto tem uma forte vertente arquitectónica, aliaram-se ao Atelier In Vitro e, juntos, foram a única equipa internacional seleccionada para fazer a análise de duas aldeias no oeste do país. Existem ainda outras duas aldeias que vão ser estudadas por uma equipa do Butão.

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Conhecer cada casa

Tiago Ilharco fala do comportamento sísmico dos edifícios

O trabalho de campo, que começa no sábado, tem a duração de um mês e vai ser usado para tirar uma radiografia de todas as casas das duas aldeias em questão. “Vamos fazer um levantamento das construções a nível arquitectónico, construtivo e estrutural”, conta Joana Vasconcelos. “Cada aldeia tem dez casas, o que é um reflexo da baixa densidade populacional do país. A maioria são edifícios de quatro frentes e dois pisos, construídos em terra compactada e em madeira”, detalha a arquitecta.

Joana Vasconcelos refere o tipo de construção

Além das equipas de apoio que vão acompanhar o trabalho de campo a partir do Porto, Joana e Tiago contam também com a colaboração de um arquitecto butanês que vai ajudar na parte sociológica do projecto. “Vamos entrevistar artesãos para saber se a forma de construir ainda é a mesma, se ainda se produzem as técnicas tradicionais”, salienta Joana. Todas estas informações vão ser preciosas para ajudar estes edifícios a comportarem-se melhor no caso de um sismo. “Sismos registados em 2009 e 2011 destruíram 13 mil casas tradicionais”, conta Tiago. O engenheiro afirma que “o objetivo é perceber o comportamento dos edifícios e, se necessário, reforça-los para que possam funcionar melhor se houver um sismo”.

Se no Butão, as pessoas continuam a construir da mesma forma há centenas de anos, as soluções de reforço dos edifícios vão ter de adaptar-se às tradições. “As pessoas constroem com o que têm à mão, a madeira e a terra. É a forma mais barata e mais simples de construir”, diz Tiago. “As soluções de reforço sísmico têm de ser adaptadas às condições locais”, completa Joana.

Depois de recolherem o máximo de informações possíveis, o trabalho continua por dois meses em Portugal. O resultado final vai se traduzir na caracterização dos edifícios, como estão a funcionar e que medidas de reforço se podem implementar. A próxima etapa é fazer o projecto de engenheira detalhado para que as casas sejam reforçadas. Mas esta é uma fase que ainda será alvo de um novo concurso. “Esperamos ganhar, com a experiência que vamos ter agora, contamos poder dar continuidade a este projecto”, afirma Tiago Ilharco.

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