França defende levantamento gradual das sanções contra a Rússia
Presidente François Hollande admite relaxar as medidas retaliatórias contra a Rússia por causa da Ucrânia, de forma a incentivar as negociações de paz entre Moscovo e Kiev.
O gesto de boa vontade do líder francês será uma tentativa de desbloquear a próxima ronda de conversações entre os Presidentes da Rússia e da Ucrânia, Vladimir Putin e Petro Poroshenko, respectivamente, marcada para a capital do Cazaquistão, Astana, no próximo dia 15 de Janeiro. As negociações têm sido mediadas por França e Alemanha – mas tanto François Hollande como o porta-voz da chanceler Angela Merkel manifestaram o seu desalento com os progressos até agora alcançados.
Numa entrevista à rádio France Inter, o Presidente francês confirmou a sua disposição de prosseguir com as negociações, mas advertiu que só viajará para Astana "se houver uma possibilidade real de novos progressos". "Se é só para conversar sem avançar, não vale a pena. Mas acredito que teremos desenvolvimentos", declarou Hollande.
O porta-voz da chanceler da Alemanha, Steffen Seibert, foi bastante mais pessimista quando perguntado sobre o próximo encontro entre Putin e Poroshenko. "Não sabemos sequer se vai acontecer. Não faz sentido continuarmos a reunir se não é para fazer progressos nas negociações", observou, definindo como progresso "a implementação do acordo de paz assinado em Minsk para um cessar-fogo genuíno e duradouro, uma linha de contacto entre os rebeldes que controlam as áreas do Leste e o Governo da Ucrânia e a retirada de todos os equipamentos militares pesados da região". Todos estes objectivos, acrescentou, não podem ser alcançados "sem preparação com antecedência".
Os ministros dos Negócios Estrangeiros de França e da Alemanha estão a concertar posições, com vista à participação (ou não) no encontro de Astana. Delegações diplomáticas dos dois países, bem como representantes da Ucrânia e da Rússia, reuniram-se esta segunda-feira em Berlim para projectarem a ordem de trabalhos. Na quinta-feira, Angela Merkel recebe o primeiro-ministro ucraniano, Arseni Iatseniuk.
Para François Hollande, uma fórmula possível para promover o entendimento com a Rússia passa por um levantamento gradual das sanções que foram impostas depois de Moscovo anexar o território da Crimeia, em Março de 2014 – e que foram sendo reforçadas à medida que foi denunciada a crescente interferência do Governo russo para a desestabilização da Ucrânia, nomeadamente através do apoio militar aos separatistas que reclamam a autodeterminação das regiões de Lugansk e Donetsk, no Leste do país.
Numa posição que é partilhada por outros parceiros europeus – Itália, Hungria e Eslováquia pronunciaram-se no mesmo sentido –, o líder francês notou que as sanções aplicadas pela União Europeia, os Estados Unidos e o Canadá, e que incidem sobre os sectores da energia, armamento e banca, não estão só a prejudicar a Rússia: também estão a ter reflexos negativos nas economias europeias, por causa das medidas retaliatórias do Kremlin (por exemplo, a proibição das importações de produtos alimentares europeus, ou a suspensão das exportações de gás).
"Penso que as sanções devem ser levantadas em função do progresso das negociações. Se não houver progresso, as sanções mantêm-se", defendeu.