Ataques a mesquitas confrontam a Suécia com os limites da sua tolerância

Numa semana, três locais de oração muçulmanos foram incendiados. Acções coincidem com crescente popularidade de partido anti-imigração no país que, proporcionalmente, mais refugiados recebeu em 2014.

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"Não toquem na minha mesquita" é o slogan de repúdio Reuters

“Ninguém na Suécia deve ter medo de praticar a sua religião”, afirmou o primeiro-ministro sueco, o social-democrata Stefan Löfven, horas depois de um cocktail-Molotov ter sido lançado, a coberto da noite, contra uma mesquita de Uppsala, a norte de Estocolmo. Testemunhas dizem ter visto um homem a atirar um objecto incandescente contra o edifício, supostamente o mesmo que deixou uma inscrição xenófoba numa das portas.

A mesquita estava vazia e o projéctil não provocou estragos, mas reforçou o medo da comunidade muçulmana, alarmada depois de, no dia de Natal, uma bomba incendiária ter sido lançada contra uma mesquita em Eskilstuna, cidade com uma grande comunidade imigrante, a oeste da capital, ferindo cinco pessoas.

“Deixámos o nosso país como refugiados. Não viemos à procura de comida ou benesses, mas de um local onde nos pudéssemos sentir seguros”, disse ao correspondente do New York Times Abdirahman Warsam, imã da mesquita, de origem somali. “Isso desapareceu. Sentimos que a sociedade se está a virar contra nós.” Quatro dias depois, a 29 de Dezembro, um incêndio que terá tido igualmente mão criminosa provocou estragos no interior de uma pequena mesquita em Eslov, na Sul do país.

O Governo anunciou um reforço da segurança policial nos locais de culto muçulmanos e muitos suecos juntaram-se para repudiar os ataques. Na porta da mesquita de Uppsala, o graffiti racista foi limpo e, em seu lugar, foram colados centenas de corações em papel. Na sexta-feira, mais de mil suecos juntaram-se no centro de Estocolmo empunhando cartazes com aquele que se tornou o slogan do repúdio: “Não toquem na minha mesquita”.

“Queremos passar a mensagem de que estes ataques são um problema para toda a sociedade e não apenas para os muçulmanos”, disse à AFP Mohammed Karrabi, porta-voz da Associação Islâmica da Suécia (AIS). A ministra da Cultura e Democracia, Alice Bah Kuhnke, filha de imigrantes gambianos, anunciou que está a ser preparada uma estratégia nacional contra a islamofobia, que incluirá acções de esclarecimento para combater preconceitos em relação à religião muçulmana. “A Suécia continua a ser um paraíso, mas temos problemas que precisam de ser resolvidos”, afirmou.

A Suécia é, em muitas medidas, um oásis na Europa. Em 2014, foi o país da União Europeia que mais refugiados recebeu em relação à sua população. Neste ano prepara-se para bater todos os recordes, prevendo acolher mais cem mil pessoas fugidas à guerra. A generosa política de asilo contribuiu para que 16% dos seus dez milhões de habitantes tenha nascido fora do país ou seja filho de estrangeiros e é um dos poucos países europeus onde a maioria dos eleitores aprova a gestão que o governo faz da imigração.

Mas a integração dos recém-chegados nem sempre é fácil. A taxa de desemprego entre os estrangeiros é o dobro da média nacional e as associações de solidariedade denunciam que muitos são alojados em autênticos guetos, como aqueles na periferia de Estocolmo onde na Primavera de 2013 se registaram violentos motins. E com o mundo a registar a maior vaga de refugiados desde a II Guerra Mundial, são cada vez mais os suecos que querem que as portas do país se fechem. Em Setembro, os Democratas Suecos, partido populista que fez campanha exigindo um corte de 90% no número de asilos concedidos pelo país, tornou-se a terceira força mais votada, o que lhe permitiu chumbar o orçamento e quase forçar a queda do executivo de Löfven – as eleições antecipadas só não se concretizaram porque os sociais-democratas firmaram um pacto de governabilidade com todos os partidos moderados.

São poucos os que associam os populistas à vaga de ataques às mesquitas – que eles condenaram – mas quase ninguém tem dúvidas de que vieram dar credibilidade ao discurso xenófobo que antes só se ouvia aos grupos neonazis, com longo historial no país. A revista Expo, especializada no seguimento destes movimentos, contabilizou uma dezena de acções contra mesquitas em 2014 e os muçulmanos denunciam um aumento do assédio e dos ataques verbais. “Os Democratas Suecos estão a impulsionar uma agenda antimuçulmana e uma boa parte da sociedade comprou esse discurso”, disse Omar Mustafa, presidente da AIS ao jornal online The Local

   

 

   

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