Natural da Magueigia, que, diz a Wikipédia, é uma localidade da freguesia de Santa Catarina da Serra, concelho de Leiria, com cerca de 400 habitantes, Jorge Daniel nasceu na Internet em 2009, primeiro num blogue, depois numa página no Facebook que já conta com mais de cem mil gostos. O seu dia-a-dia, tão cómico e singular como o de (quase) todos nós, está lá, recheado de "babes", partidas de ping-pong, performances de diablo e muitas noitadas na pista de dança (na inesquecível Kayene e não só).
Com 19 anos, é um mito — por isso, como qualquer fenómeno que se preze, já tem um livro, que chegou mesmo a esgotar em algumas lojas. Lançado em Dezembro, "Jorge Daniel - Diário de Uma Lenda", da Escritório Editora, conta com prefácio de João Manzarra, posfácio do próprio pai, quase meia centena de ilustrações originais (uma pequena amostra está aqui) e umas quantas prendas. Agora que Jorge regressou a Portugal e foi viver para a cave, depois de uma passagem por França onde foi assistente do DJ Gnomo na discoteca La Baguette, lá conseguimos que fizesse uma marcação na sua agenda para responder às nossas perguntas por e-mail (e ainda mandou beijinhos "a todas as gatinhas do P3").
Antes de mais, quero agradecer o Dedo Coçador que nos ofereceste este ano. Como correu o Natal? O que recebeste?
O meu Natal foi ok. Acho que tinha sido mais fixe se tivesse sido na cave como eu pedi, mas ninguém me liga e toda a gente diz que na lareira é que se está quentinho e que não tem jeito nenhum jantar ao lado da máquina de cortar relva, enfim... Em relação a prendas recebi coisas muito boas, mas não gostei de nada em especial.
E a passagem de ano? A Kayene continua a ser uma boa alternativa?
Acho que faltam bons espaços em Portugal para passar o fim de ano. Depois das festas da La Baguette falta uma discoteca que me dê pica. Acho que a Kayene continua a ser a melhor discoteca da zona centro, mas precisa de umas ideias novas que eu até ando a discutir com os donos — em princípio vão comprar e dar-me algumas quotas de lá. Algumas ideias que estou quase a vender são: ter uma foca numa jaula a dançar a noite toda, ter garrafas no tecto que vão deitando bebida para a pista, ter anões a levantar copos, entre outras que agora não posso revelar.
Regressaste recentemente a Portugal. Como tens ocupado os dias?
A ver "Breaking Bad", "Game of Trones" e "Lost" na minha cave porque nesta altura do ano está muito frio, e a saúde é o bem mais valioso que nós temos e não podemos ficar doentes. Não ando aí na rua de t-shirtzinha como alguns mesmo a ver se apanho uma gripe, só para dar alto cenário. Mas o meu pai já me disse que preciso de arranjar um emprego senão vou ter que ir com o meu tio rachar lenha.
Como têm corrido as vendas do livro?
Felizmente as vendas estão a correr super bem, algumas pessoas andavam perdidas e sem rumo na vida e, ao ler o meu livro, muitas dessas pessoas gostam e riem-se. O dinheiro vai directamente para a conta do meu pai porque ele diz que tem de consertar o telhado lá de casa por causa das trovoadas de Outubro; se sobrar algum ele dá-me ou compra coisas que eu gosto de comer.
O teu livro foi lançado em Dezembro, mas só contém relatos de 2009 a 2011. Não temes que esteja desactualizado?
Não. A Pedra Filosofal do António Sala também já tem alguns 50 anos e ainda há pessoas que a lêem hoje em dia.
Tens tido mais "babes" desde que lançaste o livro ou o teu sucesso intimida-as?
Sempre tive as "babes" que quis. O livro acaba por me dar outra faceta mais intelectual e de escritor que as "babes" gostam e ainda ficam mais loucas. Às vezes até me pedem para dar autógrafos em partes íntimas e já me ofereceram umas cuecas.
No teu livro, passas em revista algumas das melhores compras que fizeste no D-Mail. Qual vai ser a próxima?
O D-Mail entretanto deixou de enviar os catálogos e não estou actualizado, mas gostava de ter o porta-bananas que eles vendem ou aquela bengala que tem luz, piscas e buzina para oferecer ao meu avô quando ele fizer anos.
Em 2009, criaste um blogue que, num rasgo empreendedor, acabou por se tornar num livro; pelo meio, emigraste, tal como milhares de jovens portugueses. Como vês a situação desta geração? Consideras-te um exemplo?
Considero-me um amigo do seu amigo. Acho que o problema do mundo é as pessoas não se ouvirem umas às outras. As pessoas precipitam-se a tirar conclusões sobre as outras e depois há guerras, discórdia, brigas e homens-bomba. Como o meu pai que anda chateado com um vizinho que tem um limoeiro fora do nosso terreno, mas os limões caem no nosso quintal. Só um estúpido como o nosso vizinho é que acha que tem direito aos limões que caem na nossa casa. E depois faz ameaças e já disse que nos partia a casa toda.
O que planeias fazer agora?
Quero continuar a minha carreira de DJ e não só. Talvez monte uma empresa de festas surpresa e cenas para se fazer em discotecas. Em princípio na próxima semana já vou ao IEFP para tratar das papeladas e ver se eles me emprestam uma mesa de misturas.
Podes deixar um conselho para todos os jovens que querem ser como tu?
O melhor conselho que eu posso dar é: não queiram ser como eu, queiram ser como vocês próprios, mesmo que sejam feios, gordos ou maldispostos, há sempre qualquer coisa em que vocês são os melhores do mundo. Por exemplo, o Mourinho é o melhor do mundo em futebol, eu sou o melhor do mundo em "babes". Ou como o meu avô diz: "Quem já se queimou com sopa, sopra até o iogurte."
Quando é que autografas o meu livro?
Mais logo quando vieres cá a casa ;)