Vá-se lá saber porquê, porque o Ano Novo vem logo a seguir ao Natal, porque está mesmo ali ao virar da esquina, talvez por estar à mão de semear ou pura e simplesmente porque ainda estamos de férias, nunca nos deu na veneta passar o Ano Novo na cidade que nos acolhe e provém de há sete anos para cá. Ao invés, procuramos por terras lusas dobrar o tempo e o corpo entre família e amigos, assim sacrificando o Tamisa em chamas em igual número de passagens de ano, apenas porque as horas são curtas e as saudades tantas. No entanto, o tempo, mestre-maior e professor para todos quantos querem professar, tem-nos brindado com passagens de ano consecutivamente dedicadas a reality shows e jogos de computador, seja em tua casa ou na casa dos outros, porque pura e simplesmente nenhum dos teus amigos tem mais de vinte euros para gastar.
Lembro-me de uma feliz ocasião, no entanto, onde nos foi permitido celebrar condignamente a passagem de Ano nos entrementes de um concerto apenas porque um dos nossos amigos era parte da banda e ninguém tinha mais de vinte euros para gastar. Não obstante, no ano a seguir, e porque nenhum dos meus amigos tinha mais de vinte euros para gastar (para o caso de ainda não terem percebido), passou-se o ano em minha casa, gesto prontamente correspondido com um "obrigado" e "a ver se para o ano fazemos alguma coisa de jeito". Resultado práctico, de então para cá dedicamos as Passagens de Ano à família, porque à medida que nos aproximamos dos quarentas, ainda nenhum dos meus amigos tem mais de vinte euros para gastar. E, claro está, estamos todos carecas de saber porque é que ninguém tem dinheiro, quanto mais dinheiro para gastar, seja por culpa da crise, seja por culpa do desemprego, ou por culpa da crise e do desemprego, assim mesmo, tudo ao mesmo tempo numa mistura explosiva cujo resultado está, desde há sete anos para cá, à vista para quem quiser ver, ou nem por isso.
Mas se entre os meus amigos eu sempre fui o mais novo, o menos capaz, aquele com menos licenciaturas (só uma), menos estudos, menos experiência e sem cunhas à vista, porque carga de água, depois de sete anos lá fora, tenho eu de continuar à espera que Portugal tenha mais de vinte euros para gastar? Não. Cansámo-nos de esperar por um Portugal a quem pouco mais pedimos para além de dois dedos de testa e vontade de mudar, cansámo-nos de esperar e este ano o Réveillon é por nossa conta, porque ao longo de sete anos amealhámos mais do que motivos para celebrar e ansiar por este Ano Novo que agora se avizinha, e se ainda não celebrámos, agora é que vai ser e esta Passagem de Ano vai ser de arromba. Apenas porque nos cansámos de esperar por Portugal; Portugal que espere agora por nós.