“Jogo porque me divirto e adoro a competição”
Com 32 anos, Gonçalo Foro não traça ainda metas para deixar de jogar, confessa que foi muito difícil deixar de participar no Circuito Mundial de Sevens e fala do seu papel no selecção de XV
Depois de um mau apuramento para o Mundial 2015, Portugal terminou o ano com uma vitória contra a Namíbia. Que conclusões se podem tirar desse jogo?
Eu gosto sempre de falar sobre os mais novos e o meu papel agora também é o de os ajudar a evoluir. Nesse jogo senti que a vontade que havia em 2007 voltou a existir. Com os jogadores a não desistirem e a jogarem de igual para igual. Foi só um jogo, mas foi também importante a reacção das pessoas no final. Vi as pessoas a saíram satisfeitas, o que não acontecia há muito tempo. Estava tudo entusiasmado. Tenho a certeza que nos próximos jogos vai estar mais gente a ver. Foi bom para motivar.
O Luís Cassiano Neves, que já foi seu treinador do CDUL, afirmou recentemente que o Gonçalo é “um dos mais relevantes Lobos da nossa história” e destacou a forma como trabalhou e evoluiu ao longo da carreira até um nível que poucos acreditavam, quando começou a jogar. As novas gerações sabem o que significa ser Lobo?
Nós custamos dizer que o difícil não é chegar à selecção. O difícil é manter-se lá. Alguns sabem, outros não. O nosso papel, também é tentar contagiar os mais novos e fazer-lhes ver o que significa representar o nosso país. Pode parecer uma coisa dita da boca para fora, mas estamos a representar os nossos amigos, a nossa família e todos os que conhecemos. Nas primeiras vezes há o fascínio de vestir a camisola e cantar o hino, mas só depois começamos a perceber o valor real daquilo.
No Mundial 2007, onde o Gonçalo esteve presente, a defesa portuguesa foi elogiada por todos. Hoje a grande maioria dos jovens que surgem nas selecções principais têm muita qualidade técnica mas a defesa e a placagem tem sido o ponto fraco...
Eu joguei pouco no Mundial. Quando cheguei lá tinha apenas duas internacionalizações e nem participei na qualificação, que na minha opinião foi o período mais importante. O que senti na altura, era que não tendo a maioria dos jogadores essa qualidade técnica, tinham que compensar isso de outra forma. E compensavam com o espirito de equipa, de sacrifício e esses valores todos que o Tomaz [Morais], com a ajuda do Daniel [Hourcade], trouxe para o râguebi português. Se calhar nos últimos tempos perdeu-se um pouco a identidade. É por isso que jogadores como eu, o Vasco [Uva] ou o [Tiago] Girão estamos a tentar trazer esse espírito de volta para a selecção. É esse um dos nossos papéis.
Abdicou de participar no Circuito Mundial de Sevens por motivos profissionais. Foi uma decisão difícil?
Nem imaginam o quanto. Eu adoro aquilo. Adoro sevens, pelo que nos proporciona. Por nos permitir jogar contra os melhores do mundo e estar na elite. Para mim não há nada melhor do que competir contra quem é melhor do que eu. Mas há alturas na vida em que é preciso tomar decisões. Tenho um negócio com o Pedro Cabral e não pode sobrar sempre tudo para ele. Nesta fase é muito difícil estar 15 dias fora e por isso optei por não disputar esta fase do Circuito Mundial.
Em Junho, se for convocado, estará disponível para disputar os torneios de apuramento para os Jogos Olímpicos?
Sim, estarei disponível. Disse ao Pedro Netto e ao Tomaz Morais que iria treinar com a selecção e depois logo se vê se serei escolhido…
Que balanço faz das três primeiras etapas do Circuito Mundial?
Foram em crescendo. No princípio senti que faltava alguma maturidade à equipa e jogadores que se chegassem à frente, mas agora já vejo o Adérito [Esteves] a assumir responsabilidades e a ser um dos mais importantes, vejo o Carl [Murray] muito bem, vejo o [Nuno] Sousa Guedes a fazer-se jogador… Está a ser construída uma equipa porreira que está a melhorar de torneio para torneio.
Já há condições em Portugal para separar o XV dos sevens e manter equipas competitivas ou isso deve apenas acontecer em situações pontuais?
Respondo a isso no final da época [risos]. Ainda só tivemos um jogo de XV. Nos sevens está a resultar. Vai, pelo menos, evitar que alguns jogadores cheguem a Maio todos rebentados. Há dois anos, chegamos a sair de Santiago de Compostela, depois de jogar com a Espanha pela selecção de XV, de carro para Lisboa, fizemos a mala e arrancamos directos para Hong Kong… Era impossível e isso não se faz em lado nenhum.
Esteve no Mundial 2007, em dois Mundiais de Sevens, disputou o Circuito Mundial, ganhou todos os troféus nacionais pelo CDUL. Falta os Jogos Olímpicos?
Isso do “falta” não é a maneira como penso. Se jogasse a Taça Ibérica, era isso que importava. Não penso no que já ganhei ou falta ganhar. Jogo porque me divirto e adoro a competição. Jogar nos Jogos Olímpicos é obviamente um objectivo, mas sei que será difícil. Para além de ter 32 anos, temos que ser realistas e saber que será difícil a qualificação…
Falou da idade. Já definiu uma meta ou prazo para deixar de jogar?
Não. Enquanto me sentir útil…
Jogar no Mundial 2019 no Japão, não é impossível…
Nem fiz as contas para saber que idade vou ter em 2019 [risos]. Não é impossível. Sou relativamente bom fisicamente, vamos ver…
Recebeu em Outubro o prémio de Jogador do Ano, atribuído pela FPR. O que é que significou para si esse prémio?
Sendo um desporto colectivo, depende sempre do resultado da equipa. Sei que jogar numa equipa como CDUL ajuda. É óptimo ver o nosso trabalho reconhecido e não vou ser hipócrita e dizer que não me interessava isso. Um dos meus objectivos sempre foi tentar ser um dos melhores jogadores portugueses e marcar uma geração no CDUL e na selecção. Vou continuar a tentar ser sempre melhor. Foi uma satisfação enorme, ainda para mais com a competição que tinha: o Vasco [Uva], que toda a gente sabe o peso que tem no râguebi português, e o Carl [Murray] que nos últimos anos tem marcado uma posição de relevo.
Leia a primeira parte da entrevista aqui