Depois do ataque à Sony, Coreia do Norte ficou nove horas sem Internet
Analistas dizem que apagão informático pode ter origem numa falha ou num ciberataque. EUA não comentam incidente
Dos 24 milhões de norte-coreanos são poucos os que têm acesso à Internet, um país que dispõe apenas de mil endereços electrónicos, pelo que o efeito do apagão terá passado despercebido à generalidade da população. Mas os sites de várias entidades, caso da agência de notícias coreana KCNA ou do jornal Rodong Sinmun, o maior do país, estiveram várias horas offline.
O regime de Pyongyang não fez qualquer comentário sobre a falha, que foi reportada por empresas norte-americanas que monitorizam as redes de Internet. A Dyn Research, especializada em segurança informática, adiantou que os problemas de ligação começaram a ser sentidos no sábado e, após um período de instabilidade, toda a rede informática do país deixou de funcionar na segunda-feira. Só nesta terça-feira, as ligações começaram a ser restabelecidas.
Responsáveis norte-americanos recusaram comentar o incidente ou o eventual envolvimento do país no apagão informático, que surgiu dias depois de o Presidente, Barack Obama, ter garantido que os Estados Unidos iriam “responder proporcionalmente” ao ataque à Sony “no local e no momento à sua escolha”. Questionada sobre o assunto, uma porta-voz do Departamento de Estado norte-americano adiantou que Washington “não vai discutir detalhes operacionais sobre as possíveis opções de resposta, ou comentar esse tipo de informações, excepto para dizer que algumas das respostas que viermos a adoptar serão visíveis e outras não”.
Doug Madory, director de análise da Internet da Dyn Research, explicou que o apagão poderá ter tido “uma explicação benigna” – há a possibilidade de os responsáveis terem decidido desligar o sistema para resolver um conjunto de problemas no sistema. “Mas não me surpreenderia que eles tivessem sido alvo de um ataque”.
A Coreia do Norte tem apenas quatro pontos de ligação à Web e todo o seu tráfego passa pela China Netcom, uma filial da empresa estatal China Unicom. Uma dependência que torna o país mais vulnerável a ciberataques. “Se, de facto, foi um ataque não seria um esforço tremendo realizá-lo. Trata-se apenas de uma ligação através da fronteira e sobrecarregar a rede não exigiria o tipo de esforço só disponível aos Estados, bastaria uma única pessoa”, disse à BBC James Cowie, chefe de pesquisa da empresa norte-americana.
A Coreia do Norte rejeitou qualquer responsabilidade no ataque que levou à divulgação de emails, informação privada de milhares de funcionários e dados sobre os planos estratégicos da Sony Pictures, mas elogiou quem o fez. Na semana passada, a produtora anunciou não ter planos para a estreia do The Interview – cuja intriga se centra num par de jornalistas contratados pela CIA para assassinar o líder norte-coreano Kim Jong-un – face à recusa das principais distribuidoras norte-americanas, igualmente ameaçadas por hackers, em passar o filme nas suas salas.
O caso assumiu dimensões políticas quando o FBI disse ter indícios claros de que o ataque foi obra da Coreia do Norte – apesar de serem vários os peritos que garantem que é virtualmente impossível detectar a origem de uma acção deste género, reivindicado por um grupo que se autoproclama “Guardiões da Paz”. O regime de Pyongyang respondeu dizendo estar pronto “para um confronto com os Estados Unidos em todos os espaços de conflito, incluindo os espaços de ciberguerra” e ameaçou a Casa Branca e o Pentágono com “o ataque mais duro”.
Washington terá entretanto pedido à China, o único aliado internacional de peso de Pyongyang, que desligasse os servidores associados a este ciberataque e repatriasse eventuais hackers norte-coreanos. Responsáveis norte-americanos disseram à Reuters não ter obtido uma resposta de Pequim, mas já nesta terça-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês veio sugerir que os dois países dialoguem para que este tipo de incidentes não gere novos focos de conflito. Revelando estar a par quer das acusações americanas, quer das informações sobre o apagão informático na Coreia do Norte, um porta-voz da diplomacia reafirmou que Pequim “se opõe a todas as formas de ciberterrorismo e de ataques informáticos”.