O estilista Manuel Alves leva-nos pela “verdade de Lisboa”, escondida nos altos e baixos das sete colinas, nos jogos de sombra e de luz das ruas tortuosas, no cruzamento de vidas e estatutos sociais, que dão à capital portuguesa “o que o resto do mundo já perdeu”. O músico Rodrigo Leão guia-nos antes pelos sons que caracterizam a cidade, enquanto a modelo Ana Sofia Martins mostra a noite mais étnica, a cantora Carminho revela a cultura do Fado e o olisipógrafo José Sarmento de Matos e a actriz Maria de Medeiros contam a história de Lisboa.
O livro “Show Me Lisbon”, de Rita Sousa Tavares, é, antes de mais, um retrato da capital portuguesa feito através do olhar de quem nela vive: 13 lisboetas, por nascimento ou por opção, de diferentes gerações e profissões. Uma obra que quer mostrar o lado “dinâmico, descontraído e realista” da cidade, “fugindo ao cliché do postalinho, pois não vivemos o cartão postal”, defende. No entanto, assumia o actor Nicolau Breyner durante a sessão de apresentação (realizada a 11 de Dezembro na Casa do Alentejo), “é um livro que nos vai fazer gostar ainda mais de Lisboa, se é que isso é possível”.
Tal como a obra inaugural do projecto Show Me Cities, dedicada ao Rio de Janeiro, o livro lançado este mês reserva as páginas finais para um guia turístico, com cerca de uma centena de dicas reveladas pelos entrevistados. Um Insider's Guide que vem igualmente numa versão em desdobrável, com directório de moradas e mapa. Tudo em versão bilingue: português e inglês.
O objectivo, conta à Fugas a escritora e jornalista portuguesa, é que o livro “reflicta a cidade dos lisboetas”, não só porque são estes quem a conhece melhor mas também porque acredita que “as pessoas são a própria cidade [onde vivem]”, influenciando-se mutuamente. “São elas que nos ajudam a compreender a razão de ser de tudo o que se come, ouve, pensa, escreve, vê e sente. Um guia é sempre um reflexo. Elas, as pessoas, são o espelho”, explica na introdução.
Para a autora, este é um livro tanto para os próprios lisboetas – que podem aqui “voltar a viver alguns temas e locais” esquecidos na azáfama do quotidiano e descobrir novos sítios e perspectivas da cidade -, como para os turistas estrangeiros – que ficam “a conhecer a cidade através de quem a habita” e que vai, por isso, além do “turístico e do mainstream”, com referências a pormenores só captados por quem os vive, como “as tasquinhas, a própria maneira de viver a cidade, a noite, a importância da luz e do Tejo”.
É o caso do abandonado Restaurante Panorâmico de Monsanto, recomendado pelo artista urbano Vhils (Alexandre Farto) e que surpreendeu até a própria autora. “Tem uma vista tão ampla da cidade” e é “um edifício extraordinário, até mesmo pela arquitectura”, defende. Ou “os cabeleireiros étnicos, as tasquinhas indianas e angolanas” que descobriu na Mouraria pela mão do autarca António Costa. Ou as “casas onde se canta fado vadio até às 5h”. “Estão aqui muitas coisas que já não me lembrava ou que eu própria desconhecia”, conta.
Edição de bolso a caminho
Esta edição de luxo, com mais de 300 páginas e capa dura, divide-se entre os temas que, segundo a autora e os entrevistados, definem Lisboa, quais peças de um puzzle único que distingue a capital de qualquer outra urbe: desde a emoção de chegar à cidade ao ser lisboeta, das sete colinas ao Tejo e à luz, das “camadas da História” ao 25 de Abril, sem esquecer a poesia, os sons ou o fado, a gastronomia, os santos populares e as fachadas.
Ao longo da obra vão desfilando dezenas de fotografias de João Pina, poemas de Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner Andersen (avó da autora), canções de Amália Rodrigues, textos de Rita Sousa Tavares e outros escritores convidados, assim como encontros com populares, caso das lavadeiras da Madragoa, e excertos das entrevistas feitas (Joana Vasconcelos, Richard Zenith, José Avillez, Carminho, António Costa, Nicolau Breyner, Maria de Medeiros, Vhils, Ana Sofia Martins, Rodrigo Leão, Manuel Alves, José Sarmento de Matos e Ana Sofia Gonçalves).
Se a capa de "Show Me Rio" era de amarelo vivo, carioca, o “essencial” de Lisboa, como defende no início do livro, vem embrulhado a azul turquesa. “Primeiro pensei em encarnado escuro, talvez por influência do fado, mas depois disseram-me que Lisboa era azul e, de facto, é: o céu, o Tejo, a luz, a própria 'onda' da cidade, os azulejos”, enumera.
Em Fevereiro será lançado uma “edição de bolso”, em capa mole e com um preço de cerca de 23 euros, e um documentário de 52 minutos, que estará à venda nas lojas e será transmitido na RTP. “Será como entrar dentro livro, onde somos guiados pela mão destes lisboetas”, num retrato “muito mais rico e variado”. O Show Me Lisbon, edição Café Pessoa e distribuído pelo Clube de Autor, custa 30 euros e está à venda nas principais livrarias do país.