FARC anunciam cessar-fogo unilateral e por tempo indeterminado a partir de sábado
Guerrilha marxista colombiana toma a iniciativa para fechar o ciclo de negociações com vista ao estabelecimento de um acordo de paz com o Governo.
Um comunicado publicado no site das FARC diz que a guerrilha “resolveu declarar um cessar-fogo unilateral e pôr fim às hostilidades por tempo indeterminado” – trata-se de um anúncio histórico dentro do processo de paz com o Governo de Bogotá, que arrancou em 2012 em Cuba.
Desde o início das negociações, a guerrilha declarou cessar-fogos temporários nos dois últimos Natais e suspendeu as acções armadas durante as eleições que, este ano, deram um segundo mandato presidencial a Juan Manuel Santos. Mas não tinha, até agora, declarado uma trégua unilateral e incondicional.
“Este cessar-fogo unilateral, que esperamos se prolongue no tempo, só será interrompido se as nossas estruturas de guerrilha forem alvo de qualquer ataque militar”, informaram as FARC. Aquela que é a principal guerrilha colombiana tem um número de combatentes calculado em cerca de 8000.
Os rebeldes pedem a verificação do cessar-fogo por uma organização internacional independente, como as Nações Unidas, a Cruz Vermelha, a União das Nações Sul-Americanas ou a Igreja Católica. “É nossa esperança que o povo soberano [da Colômbia] queira também assumir o protagonismo dessa supervisão, uma vez que o cessar-fogo foi decidido para o benefício de uma pátria dilacerada e em homenagem às vítimas de ontem e hoje”, diz o comunicado.
O apelo ao envolvimento de organizações internacionais é a forma encontrada pelas FARC para pressionar José Manuel Santos a assumir também o cessar-fogo, explicou a Reuters. Desde o início das conversações com vista à assinatura de um acordo de paz, os rebeldes têm exigido, sem sucesso, que o Governo também se comprometa com uma trégua.
O anúncio foi confirmado pelo negociador das FARC, Iván Márquez, em Havana, onde, na terça-feira, terminou a quinta ronda das conversações para pôr termo ao conflito armado de cinco décadas, o mais velho da América Latina, que foi responsável pela morte de 220 mil pessoas e a deslocação de 5,3 milhões.
Pelo lado do Governo, o embaixador Humberto de la Calle disse que o processo está a entrar na recta final, e manifestou optimismo numa resolução do conflito. “É o que merecemos, como sociedade, e é também a maneira de responder às vítimas e aos milhões de colombianos que acreditam neste processo. Não vamos dilatar a esperança nem decepcionar o país, que espera um futuro em paz”, declarou.
Já esta quinta-feira, o executivo de Bogotá saudou a iniciativa das FARC, que considera um “bom princípio”, mas continua a excluir um cessar-fogo bilateral antes da assinatura de um acordo de paz definitivo, argumentando com a necessidade de “protecção dos cidadãos”. “O Governo avaliará o cumprimento da decisão pelas FARC. O país não pode e não quer repetir as experiências do passado, quando anúncios de cessar-fogo foram apenas parcialmente mantidos”, indica um comunicado da Presidência.
As negociações que têm decorrido em Cuba permitiram já, recorda a Reuters, entendimentos parciais sobre temas como a reforma da terra, a participação das FARC na política colombina e o combate ao tráfico de droga. Nas próximas fases serão abordados assuntos delicados como a desmobilização dos rebeldes e as compensações a vítimas. “Os próximos meses são fundamentais … o cenário é nada mais, nada menos, do que o de que de agora ou nunca”, diz o comunicado da guerrilha.