A última relíquia geopolítica da Guerra Fria
O mais antigo embargo económico ainda em vigor foi decretado há mais de 52 anos.
Logo após o derrube do ditador pró-americano Fulgencio Batista pelos guerrilheiros liderados por Che Guevara e Fidel Castro que o novo poder deixou claro as suas prioridades – nacionalização das propriedades de estrangeiros na ilha, aumento das taxas aduaneiras para os produtos norte-americanos e intensificação das relações económicas com Moscovo.
Washington decide então forçar uma mudança de regime. Em Abril de 1961, o Presidente Kennedy autoriza uma operação especial da CIA que pretende desembarcar um grupo de exilados cubanos na ilha. Em apenas três dias, o exército de Fidel Castro derrota a brigada naquele que foi um dos mais famosos falhanços na história das intervenções norte-americanas – a Baía dos Porcos.
A par da via militar, os EUA tentavam enfraquecer o novo regime cubano através da asfixia económica. Antes de Kennedy, já Dwight Eisenhower tinha imposto um bloqueio às importações de açúcar cubano e cortado relações diplomáticas com Havana. Em 1962, três anos depois da revolução cubana, J.F.K. alargava o embargo a todas as trocas comerciais entre os dois países, resultando em perdas no valor de 1,126 biliões de dólares desde então, segundo estatísticas do Governo cubano.
O embargo sobreviveu à própria Guerra Fria, tendo sido, na verdade, fortalecido com o Cuba Democracy Act, de 1992, e com o Helms-Burton Act, de 1996. Estas revisões impedem que o bloqueio seja levantado enquanto Cuba não tiver organizações livres e não formar um Governo de transição que não inclua nenhum dos irmãos Castro. Pequenas alterações foram feitas nos últimos anos, no sentido de abrir excepções ao embargo, nomeadamente através da exportação de medicamentos ou bens alimentares norte-americanos, sob apertadas condições.
Para além do domínio económico, o antagonismo entre os dois países alargava-se ao campo diplomático. Em 1982, o Departamento de Estado norte-americano colocou Cuba na lista dos Estados apoiantes de terrorismo, pelo apoio dado a grupos rebeldes na América Central, onde, até esta quarta-feira, permanecia na companhia do Irão, da Síria e do Sudão. Um relatório de 2012 já concluía não haver quaisquer indícios de que o Governo cubano apoiasse ou treinasse grupos considerados terroristas.