Hodos, ou a arquitectura no caminho das rotas de peregrinação

Inspirados em projectos da Noruega e do México, vários ateliers portugueses querem pontuar caminhos percorridos por peregrinos com obras de arquitectura que ajudem a atrair mais turistas.

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Miradouro em Stegastein, Aurlandsrjellet, Noruega. arquitectos: Todd Saunders / Saunders & Wilhelmsen Vegar Moen
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Parque de Estacionamento e escadaria em Svandalsfosse, Ryfylke, na Noruega, dos arqyuitectos Haga Grov / Helge Schjelderup Jiri Havran / Statens vegvesen
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Conceito do atelier Depa para um dos pontos da Rota das Carmelitas, entre Coimbra e Fátima DR
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Conceito do atelier Farh 021.3 para um dos pontos da Rota das Carmelitas, entre Coimbra e Fátima. DR
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Hugo Reis e Filipa Frois de Almeida, da Farh 021.3, inspiraram-se na Noruega para desenvolver o projecto português Regina Coelho

Hugo Reis e Filipa Frois Almeida, do Fahr 021.3, inspiraram-se inicialmente no roteiro arquitectónico e turístico que percorre todo o sinuoso litoral da Noruega, depois de uma visita àquele país. Um projecto da empresa responsável pelas estradas nacionais daquele país permitiu, desde o final da década de 90, pontuar o percurso de milhares de quilómetros com obras, quase sempre de arquitectos emergentes, que acabaram por se tornar em mais um motivo para uma visita a sítios inóspitos, aqui e ali habitados, no meio de paisagens de cortar a respiração.

Noutro país, o México, a mais famosa rota de peregrinação nacional, com 117 quilómetros, está também pejada de intervenções arquitectónicas e artísticas, neste caso mais relacionadas com o caracter sagrado do caminho, na província de Jalisco, percorrido anualmente por milhares de pessoas que encontram, nalgumas obras, pontos de apoio ou de reflexão e oração. Seja qual for o enquadramento simbólico, a dupla de arquitectos entendeu que Portugal merece algo assim, e está a desenvolver um projecto-piloto numa antiga rota entre Coimbra e Fátima, mais interior e muito menos frequentada do que as estradas nacionais percorridas pelos fiéis a caminho do mais famoso santuário português.

A Rota das Carmelitas tem 111 quilómetros e atravessa zonas rurais e florestais, com pequenos aglomerados habitacionais pelo meio. Foi reabilitada por várias instituições, como o próprio Santuário, o Turismo do Centro, as autarquias ou a Direcção Regional de Cultura, mas o que Hugo e os restantes elementos dos vários ateliers que aceitaram o desafio do Hodos encontraram foi um caminho mal assinalado, apesar da sua beleza e interesse paisagístico. O que só lhes aumentou a vontade de introduzir neste percurso pequenas intervenções que o valorizem, e atraiam não apenas peregrinos mas outros caminhantes: aqueles que, mais do que pela fé ou pelo destino, são movidos por essa “partilha”, a da viagem em si, assinala Luís Sobral, do atelier DEPA.

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Luís e outros jovens arquitectos envolvidos no projecto foram alunos de Nuno Grande, que os convidou a formalizarem uma proposta de colaboração com a Universidade de Coimbra, onde dá aulas. Este arquitecto portuense mostra-se entusiasmado com o projecto e com o facto de os seus autores estarem interessados em fazer dele algo participado por muita gente, e aberto a estudantes finalistas. O arquitecto antevê aqui a possibilidade de introduzir obras, de custos não muito elevados, em pontos onde a arquitectura não chega, valorizando os jovens autores e os próprios lugares de implantação.

Além disso, assinala Nuno Grande, “esta é uma oportunidade para ajudar as pessoas a descobrirem um Portugal menos urbano e menos comercial do que o das estradas nacionais que hoje são percorridas pelos peregrinos”. O que o leva a desafiar a Igreja a abraçar esta ideia, agora que faltam apenas dois anos para o centenário das aparições, que se comemora em 2017.

Os responsáveis pelo projecto querem apresentá-lo à reitoria do Santuário de Fátima, às autarquias e outras entidades com intervenção neste território. As ideias que estão a trabalhar – sob o tema Criação – ainda não passaram a fase do conceito, mas Hugo Reis garante que se trata de obras pouco dispendiosas. E, com outro enquadramento institucional, admitem que o Hodos poderia ser candidatado a fundos comunitários, dado o seu impacto no turismo em regiões de baixa densidade populacional.   

Foi esse um dos motivos que levou uma empresa de obras públicas como é a responsável pelas estradas nacionais da Noruega a desenvolver um ambicioso programa de arquitectura. O desafio tinha sido colocado pelo parlamento daquele país, em 1993 – “como poderemos usar as nossas estradas para potenciar o turismo?” – e a resposta foi sendo dada ao longo de duas décadas. No catálogo, editado em 2010, o antigo primeiro-ministro e actual secretário-geral da Nato, Jens Stoltenberg, explicava como as obras entretanto construídas acrescentavam à beleza natural das paisagens um conjunto de funções (descanso, alimentação, contemplação, acesso), mas também a imagem de uma nação inovadora. Que ganhou, com este projecto, uma nova “atracção nacional”.

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