Apenas um em cada 20 semáforos em Lisboa tem sinais sonoros para cegos
Estudo avaliou barreiras existentes nas ruas de Lisboa para as pessoas com deficiência. Erros na colocação de pilaretes e obstáculos nos passeios são outros problemas apontados.
"Os semáforos (...) são pouco acessíveis às pessoas com baixa visão quando têm pouca luminosidade nos indicadores e ainda menos acessíveis para os cegos, tendo em conta que apenas cinco por cento dos exemplos encontrados possuíam sinalética sonora", adianta o relatório final do projeto "Uma Lisboa para todos".
O estudo, uma parceria entre a Associação de Retinopatia de Portugal (ARP) e a Empresa Municipal de Estacionamento e Mobilidade de Lisboa (Emel), conclui ainda que, em alguns casos, mesmo quando essa sinalização existe, o volume usado é insuficiente e o sistema funciona apenas de um dos lados da via.
As conclusões do estudo serão apresentadas esta quarta-feira, Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, na Feira Natalis, na FIL, no Parque das Nações.
A iniciativa, em que participaram 287 pessoas, 195 das quais com deficiência visual, incluiu a realização de caminhadas por oito percursos diferentes na cidade de Lisboa com o objectivo de identificar e fazer o mapeamento dos pontos de maior dificuldade no caminho das pessoas com cegueira ou baixa visão.
Os percursos passaram por locais como: Largo Luís de Camões - Sé de Lisboa, Praça Marquês de Pombal; Terreiro do Paço, Cais do Sodré; Rocha do Conde de Óbidos, Gare do Oriente; Torre Vasco da Gama, Campo Grande; Praça Duque Saldanha, Praça do Areeiro; Praça de Espanha, Praça da Figueira; Castelo de S. Jorge, S. Sebastião; Sete Rios.
Os participantes no projecto, maioritariamente com idades compreendidas entre os 31 e os 65 anos, identificaram também a colocação errada de pilaretes, a existência de múltiplos obstáculos no passeio (caixotes do lixo, caixas de eletricidade, placas de sinalização, marcos de correio, entre outros) e a má identificação dos postes de sinalização, dos placards de publicidade exteriores, das escadas, passagens aéreas e de peões.
"O exagerado número e colocação errada dos pilaretes localizados ao longo do percurso, nomeadamente (...) no eixo de atravessamento das passagens de peões, constituem um perigo e obstáculo à mobilidade", adianta o relatório, estimando que cerca de 70% das passagens de peões avaliadas se encontram nesta situação.
No caso dos placards de publicidade, o relatório alerta para o facto de alguns terem apenas suporte de um dos lados e estarem afastados do solo, o que não permite que sejam detectados pela bengala, fazendo com que os cegos acabem por chocar com eles.
O estado de conservação das ruas é também assinalado nesta avaliação, que detectou "inúmeras deficiências" no pavimento, incluindo falta e irregularidades na calçada, lancis danificados, tampas de saneamento e grelhas de sarjeta mal colocadas ou em mau estado e passadeiras com pavimento em mau estado.
O projecto enumerou igualmente algumas das boas práticas que encontrou ao longo dos percursos, como a sinalização de andaimes com cores contrastantes e com protecção ou a existência de semáforos com visores LED, e deixou algumas sugestões técnicas para melhorar a segurança e a mobilidade das pessoas com cegueira ou baixa visão.
A uniformização dos pilaretes com cor contrastante com o pavimento, semáforos com luzes Led e sinal sonoro, manutenção da pintura da sinalética horizontal, especialmente nas passadeiras, racionalização de postes de sinalização, publicidade e outras indicações, são algumas das propostas.
O relatório recomenda ainda que, no futuro, sejam "estudadas outras soluções técnicas facilitadoras da mobilidade das pessoas com deficiência visual, nomeadamente a implementação de faixas tácteis sinalizadoras de percursos, zonas de atravessamento e obstáculos" e considerada "a normalização de novas regras de implantação de todo o tipo de sinalética e mobiliário urbano".