Merril Garbus e Anne Clark: noite da mulher no Vodafone Mexefest

Se Tune-Yards contagiou o público com a sua excentricidade, St. Vincent provou que tem tanto de diva como estrela rock. Festival continua este sábado com lotação esgotada

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André Ferreira e Jorge Boiça / Vodafone Mexefest

Ao contrário do que se temia, o primeiro dia de festival arrancou sem chuva. Se isso foi um incentivo para não nos deixarmos ficar na mesma sala de espectáculos, a verdade é que quem escolheu permanecer no Coliseu dos Recreios não ficou nada mal servido.

Passavam poucos minutos das 22h quando Merril Garbus e a sua banda entraram em palco. Extravagante, Tune-Yards contagiou o público do Coliseu com uma batida tribal e coreografias que, apesar de cronometradas, se apresentavam tão livres quanto a excentricidade de Garbus. A banda começou com “Stop That Man”, tema que integra o último álbum, “Nikki Nack”, e a plateia ficou rendida, não só ao som, mas aos movimentos dos elementos do grupo que faziam das baquetas um instrumento e um elemento essencial do espectáculo.

Sabe sempre bem ouvir um “obrigada” e um “boa noite” de quem nos visita e Garbus saiu-se bem no português. Muitas palmas e algum coro com a música “Sink-O”. O que à partida pode parecer um hino à paz e amor é um discurso enigmático – “Peace, peace and love / Love is waiting / For the feeling of discomfort to pass before killing”. Ao vivo, Tune-Yards provou que é tão surpreendente como nos seus criativos videoclipes. Um projecto a acompanhar neste final de ano e, certamente, nos que se aproximam.

St. Vincent, tanto diva como estrela rock

Perto das 23h, a Casa do Alentejo preparava-se para receber Shura, a jovem cantora e compositora britânica com origens russas que este ano invadiu a blogosfera musical. O espaço só por si criava um ambiente envolvente e as expectativas eram grandes, mas a qualidade do som (os graves a soar desconfortáveis nas colunas) fez abalar as esperanças no espectáculo. Shura, talvez por não se ter apercebido do que se ouvia na plateia, não se mostrou desanimada. E o público acabou por se entusiasmar, principalmente com os singles "Touch" e "Just Once", os mais aplaudidos. Entre músicas, alguém a compara a The xx. De facto, o talento da jovem artista é inegável. Um concerto "zen" com vontade de ouvir mais, em melhores condições.

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Na Estação Vodafone FM, no Rossio, Kindness fazia a festa. O grupo liderado por Adam Bainbridge deu um dos concertos mais divertidos da noite, numa interacção com o público que não podia ter resultado melhor. O som – uma mistura de funk, pop e soul – o espaço, mágico, e a voz e dança das sedutoras cantoras transformaram Bainbridge numa das revelações da noite. Houve tempo para "covers" e o público dançou até ficar sem frio.

De volta ao Coliseu, St. Vincent, o projecto de Anne Clark, um dos nomes mais actractivos do cartaz. O espaço estava muito bem composto para receber a peculiar norte-americana e o seu grupo - e, na verdade, o concerto foi um dos mais marcantes da noite. Num vestido preto, transparente, Anne Clark mostrou ter tanto de estrela rock como de diva. St. Vincent é um espectáculo completo: há "show" de guitarra, discursos de esperança com uma oratória surpreendente e uma dança envolvente que não desilude um Coliseu cheio. O disco homónimo, lançado este ano, foi para muitos um dos álbuns de 2014. Este concerto também.

Perto da 1h, na estação do Rossio, Stereossauro lançava batidas fortes de espectro largo e mostrava por que razão é considerado um monstro das "turntables" e das misturas que não deixam ninguém parado. Embora com pouco público, ainda agarrado ao final de St. Vincent ou a escolher ficar pelo Coliseu para dançar ao som de Príncipe Showcase, Stereossauro dava o seu melhor para quem escolheu ir ouvir a sua batida.

O primeiro dia de festival já lá vai mas sábado promete mais festa, com o aguardado Perfume Genius, Sharon Van Etten ou Adult Jazz.

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