General "Kangamba" nega ter enriquecido por casar com sobrinha do Presidente angolano
Actualmente a ser investigado em Portugal por suspeitas sobre a origem duvidosa dos seus rendimentos e bens, o general angolano disse que confia na Justiça portuguesa e que está disponível para explicar a origem do dinheiro.
"Por eu casar a sobrinha do Presidente da República pensam que é aí onde eu ganho os fundos. É mentira, eu não ganho nada porque em primeiro lugar não sou funcionário da Presidência da República e em segundo lugar não sou membro do Governo, nunca fui. Até deputado à Assembleia [Nacional] eu rejeitei porque sou empresário e gosto de me sentir à vontade", assegurou, numa entrevista à Lusa a partir de Luanda – onde tem vindo a assumir preponderância na estrutura do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido liderado por José Eduardo dos Santos e no poder no país desde 1975.
Actualmente a ser investigado em Portugal por suspeitas sobre a origem duvidosa dos seus rendimentos e bens, e após informações tornadas públicas sobre alegados ilícitos semelhantes em França e no Brasil - que nega peremptoriamente -, o general angolano de três estrelas recordou que "sempre" teve dinheiro.
Depois, acrescentou que antes de casar com a sobrinha do Presidente angolano, já o acusavam de ser "possuidor de feitiço", porque o seu dinheiro "não acabava". "Nunca escondi de ninguém. Eu não sou uma pessoa pobre, sou uma pessoa rica", afirmou, recordando que em 49 anos de vida já fez "de tudo", desde o garimpo de diamantes até à venda de rua.
Hoje assume-se como empresário na área dos diamantes, da construção civil e do futebol (dono do Kabuscorp do Palanca, actual vice-campeão angolano). Confrontado pela Lusa, recusou acusações que lhe são imputadas publicamente sobre o envolvimento em tráfico de mulheres e redes de prostituição de luxo. "Quem diz que eu vendi uma 'gaja' para fazer dinheiro é feio, isso. Acha que eu vendo uma 'gaja' para ganhar dinheiro para ter um clube de futebol? É mentira", assegurou, recordando que a prostituição existe em Angola tal como em Portugal.
Bento "Kangamba" disse também que confia na Justiça portuguesa e que está disponível para explicar a origem do dinheiro encontrado em Portugal, que nega resultar de actividades ilícitas. "Eu confio pela Justiça portuguesa porque não sou criminoso. Só quem tem de ter medo da polícia portuguesa e da Justiça portuguesa é o criminoso", afirma, apresentando-se como um empresário em Angola e com casas, para a família, em Portugal.
Na mesma entrevista, assegurou que nunca foi notificado por Portugal da prática de qualquer crime, citando por várias vezes alegadas acusações de fraude fiscal e branqueamento de capitais, ou que tenha sido constituído arguido. "Agora espero eu que a polícia e a Justiça portuguesa provem os crimes, aquilo que falaram de mim. Não tenho qualquer problema com Portugal, não tenho medo de nenhum juiz ou de procurador. Quando se diz que o fulano é 'y' tem que provar", apontou.
Questionado sobre algum receio em voltar a Portugal, perante a investigação em curso, desvalorizou o assunto: "Não tenho receio porque eu não tenho [cometi] crime. E se for notificado para ir ao juiz posso ir normalmente, sem problema nenhum. Só se tivesse crime é que teria medo". Em causa estão buscas realizadas a 15 de Outubro às propriedades de Bento dos Santos "Kangamba" em Portugal, no âmbito de investigações do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) por suspeitas de branqueamento de capitais, alegadamente relacionadas com a actividade do militar angolano em território português.
Na primeira vez em que se diz referir a estas suspeitas para tentar "acabar com a especulação e as calúnias", o general de três estrelas nega que tenham sido apreendidos, nas duas casas que confirma possuir "há mais de três anos", oito milhões de euros em dinheiro, como foi noticiado. De acordo com o próprio Bento "Kangamba", nestas duas casas, ambas seladas pelas autoridades e às quais espera reaver o acesso já na próxima semana, foram encontrados 1,7 milhões de euros e 900 mil euros. Dinheiro que, diz, servia para "pagar aos trabalhadores e colaboradores mais próximos" em Portugal.
Sobre este dinheiro, admite que possa ter cometido uma irregularidade ao não o declarar à entrada no país, o que garante ter acontecido há vários anos, mas assegura que é proveniente dos seus rendimentos e não de actividades ilícitas. "Não sabia a lei de Portugal, mas isso não é crime. Pagam-se os impostos", assegurou. O mesmo diz sobre as casas e outros bens em Portugal, cuja origem estará a ser investigada pelas autoridades nacionais.
Embora insatisfeito com as acusações de que diz estar a ser alvo de Portugal, rejeita colocar a responsabilidade em "todos os portugueses" ou reagir da mesma forma. E chega mesmo a comparar o seu caso à detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates, pela "condenação" que diz já ter acontecido na "praça pública", nos dois casos.